Foto: Adam Gray/Reuters
Wednesday, 06 de August de 2025 - 08:22:13
China aumenta compras de café, mas ainda não substitui mercado dos EUA
CAFÉ BRASILEIRO BUSCA ALTERNATIVAS APÓS TARIFAÇO DOS EUA, COM OLHAR VOLTADO À CHINA

Com a imposição de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro pelos Estados Unidos, o setor cafeeiro nacional passou a observar com mais atenção o potencial do mercado chinês. Embora o país asiático seja visto como promissor, representantes do setor afirmam que a prioridade ainda é buscar uma solução com os norte-americanos para mitigar os prejuízos.

Nos últimos dez anos, o consumo de café na China aumentou de forma expressiva. O país, conhecido tradicionalmente pelo chá, passou a figurar como o sexto maior consumidor mundial da bebida, atrás apenas da União Europeia, Estados Unidos, Brasil, Filipinas e Japão. Em 2009, os chineses consumiam cerca de 300 mil sacas por ano; hoje, esse número chega a 5,8 milhões, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

O Brasil conseguiu aproveitar parte dessa expansão. De 2022 para 2023, as exportações brasileiras de café para a China triplicaram, alcançando 1,5 milhão de sacas. No entanto, em 2024, houve recuo, com apenas 988 mil sacas exportadas, o que levou a China a cair da 6ª para a 14ª posição entre os principais destinos do café brasileiro. Até o fim de julho deste ano, o volume enviado ao país asiático foi de 570 mil sacas.

Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), explica que o mercado chinês ainda está em fase de estruturação e não tem regularidade nas compras, como acontece com mercados consolidados. "A China não compra com a mesma constância de países tradicionais", afirma. Por isso, mesmo diante das oportunidades, o foco ainda está em tentar um acordo com os Estados Unidos.

“O mercado americano é insubstituível para o Brasil, assim como o Brasil é insubstituível para os EUA”, resume Matos. Em 2024, os EUA compraram 8 milhões de sacas de café moído do Brasil, mantendo-se como o maior cliente do produto brasileiro e detendo cerca de um terço de todo o mercado americano.

Apesar da queda recente nas exportações para a China, o setor vê com otimismo algumas movimentações do governo chinês. Uma autoridade das aduanas do país visitou o Brasil no primeiro semestre e anunciou medidas para facilitar o comércio bilateral, incluindo a liberação de 183 empresas brasileiras para exportar café à China. A intenção é reduzir a burocracia e agilizar processos logísticos, o que pode favorecer novos avanços.

Segundo Matos, essa cooperação com o Ministério da Agricultura foi essencial para cumprir exigências estabelecidas por um decreto chinês de 2022, que demandava o cadastramento de armazéns responsáveis por receber, estocar e embarcar o café. “É uma sinalização clara de fortalecimento das relações, e pode gerar aumento no volume de vendas. É ótimo que isso aconteça agora”, avalia.

Mesmo com as perspectivas positivas no mercado asiático, o Cecafé enfatiza que o esforço principal continua sendo o de minimizar os efeitos do tarifaço americano, seja por meio de uma tarifa reduzida ou da inclusão do café na lista de exceções à nova taxação.

Texto/Fonte: G1