O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou a lista dos municípios mais violentos da Amazônia Legal, com base nas taxas de mortes violentas intencionais registradas nos últimos três anos. O levantamento abrange os nove estados da região — Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — e classifica as cidades em quatro categorias populacionais, de pequeno porte a grandes centros urbanos.
A 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, desenvolvido em parceria com diversos institutos, indica que disputas entre facções, garimpo ilegal e conflitos agrários estão entre os principais fatores que impulsionam os homicídios. Segundo o pesquisador David Marques, dissidências internas e instabilidade no controle territorial contribuem diretamente para o aumento das mortes. Ele cita Mato Grosso como exemplo, estado que concentra seis dos 20 municípios mais violentos, incluindo a Terra Indígena Sararé — área marcada por presença de garimpeiros ilegais e facções como a Tropa do Castelar, ligada ao PCC.
O estudo detalha particularidades de cada cidade. Em Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), a proximidade com a Bolívia favorece o tráfico de drogas. Já Nobres (MT) registra conflitos entre Comando Vermelho (CV) e PCC. No Amapá, Calçoene é atravessada pela BR-156, rota estratégica para o transporte ilícito. Outros municípios enfrentam dinâmicas semelhantes: Alto Paraguai (MT) está sob domínio da Tropa do Castelar; Cumaru do Norte (PA) convive com desmatamento acelerado e garimpo; Rio Preto da Eva (AM) foi cenário de disputas entre CV e PCC; e Barra do Bugres (MT) é disputada por facções devido à facilidade de escoamento de drogas vindas da Bolívia.
A violência também aparece relacionada a questões fundiárias, como em Novo Progresso (PA) e São Félix do Xingu (PA), ambos marcados por conflitos no campo, presença de facções e desmatamento. Em Mocajuba (PA), além da atuação do CV, a violência policial respondeu por metade das mortes violentas. Já Coari (AM) e Tabatinga (AM) se destacam como corredores estratégicos para o tráfico internacional de drogas devido à navegação pelo Solimões e à proximidade com Peru e Colômbia. No Amapá, Santana e Macapá concentram quase 80% das mortes violentas do estado, impulsionadas por crimes transfronteiriços e rotas logísticas.
O levantamento também atualiza o mapa da presença de facções na Amazônia Legal: 344 dos 772 municípios apresentam algum tipo de atuação criminosa — um salto de 32,3% em um ano. O Comando Vermelho domina 202 cidades e disputa outras 84, alcançando 83% do total de municípios com presença de facções. O PCC aparece em 90 cidades, com variações em seu domínio. Outras 15 organizações, incluindo grupos locais, dissidências e facções internacionais, completam o cenário de criminalidade.
A incidência do crime organizado varia conforme a proximidade das fronteiras sul-americanas. O Acre registra presença em todos os seus municípios, enquanto o Tocantins concentra o menor índice (12%). Mato Grosso aparece com facções em 92 das 141 cidades. Em paralelo, a violência na região envolve números preocupantes: mesmo com queda para 8.047 mortes violentas em 2024, o índice permanece 31% acima da média nacional. O Amapá lidera o ranking de estados mais violentos e, assim como o Maranhão, apresenta aumento em indicadores como feminicídios e estupros — estes últimos com 80% das vítimas tendo até 14 anos. A apreensão de drogas subiu 21% no mesmo período.