Relatos de usuários do ChatGPT vieram à tona após descobertas de que conversas privadas estavam sendo exibidas nos resultados de busca do Google. Entre os diálogos indexados, estavam interações de conteúdo sensível, como relatos de abuso, transtornos mentais e experiências traumáticas. Um dos casos envolvia uma pessoa buscando apoio para lidar com transtorno de estresse pós-traumático, enquanto outro usuário relatava ser vítima de programação psicológica e procurava formas de se desprogramar.

A situação foi confirmada por Dane Stuckey, chefe de segurança da OpenAI, que publicou esclarecimentos na rede social X. Segundo ele, o vazamento se deu por conta de um recurso recém-implementado chamado "Make this chat discoverable", que permitia que conversas fossem indexadas por mecanismos de busca. A função, no entanto, teria sido ativada inadvertidamente por diversos usuários.

"Essa funcionalidade acabou levando pessoas a compartilharem, sem querer, conteúdos que não pretendiam tornar públicos. Por isso, decidimos remover essa opção", explicou Stuckey. Ele afirmou ainda que a remoção do recurso e a desindexação das conversas devem ser concluídas até a manhã do dia 1º de agosto.

O episódio gerou reações nas redes sociais e fóruns como o Reddit. Usuários testaram comandos como site:chat.openai.com/share [palavra-chave] para verificar quantas conversas estariam disponíveis publicamente. Em um dos testes, o número ultrapassava 70 mil bate-papos, alguns contendo dados considerados confidenciais, como informações corporativas.

O especialista em inteligência artificial Cleber Zanchettin, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pondera que a falha pode ter ocorrido tanto por design inadequado da ferramenta quanto por descuido dos próprios usuários. "É possível que a forma de compartilhamento não tenha sido a mais segura. Mas ainda não é possível afirmar com certeza se o erro foi da OpenAI ou do uso incorreto por parte do público", afirmou.

O g1 entrou em contato com o ChatGPT, testando as versões gratuita e paga da ferramenta, para verificar se os dados realmente estavam sendo expostos. Inicialmente, o chatbot negou que houvesse compartilhamento automático de conversas. Entretanto, após a citação da declaração oficial da OpenAI, a ferramenta reconheceu o problema e redirecionou para a central de ajuda da empresa.

No material de suporte da OpenAI, consta o alerta de que qualquer pessoa com o link de uma conversa compartilhada pode acessá-la e divulgá-la. Por esse motivo, a empresa desaconselha o compartilhamento de informações sensíveis.

Ainda que o g1 tenha repetido o teste após o prazo determinado pela OpenAI para retirada do conteúdo indexado, não encontrou mais links visíveis no buscador. O incidente levanta preocupações crescentes sobre privacidade em sistemas de inteligência artificial amplamente utilizados.

Esse episódio também reacende o debate sobre segurança digital, especialmente em ferramentas que lidam com dados pessoais. Enquanto isso, outras preocupações com a IA seguem em pauta, como o alto consumo energético de data centers e o uso indevido de imagens pessoais por criminosos, temas que também têm movimentado discussões online nas últimas semanas.