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Friday, 01 de August de 2025 - 13:53:02
COP30 em Belém: Presidente nega mudança de sede apesar de crise com acomodações
INFRAESTRUTURA E HOSPEDAGEM

Apesar das crescentes críticas internacionais sobre a disponibilidade e os altos custos das acomodações em Belém para a COP30, o governo brasileiro mantém a decisão de realizar a conferência na capital paraense. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou nesta sexta-feira (1º) que a cidade tem estrutura suficiente para receber o evento e que o problema em discussão se limita aos preços das hospedagens.

Durante coletiva com a imprensa internacional, Lago reconheceu a dificuldade enfrentada principalmente por delegações de países pobres e organizações da sociedade civil, afirmando que a elevação nos preços foi significativa. “As acomodações estão até dez vezes mais caras. Vamos garantir que essa única dimensão que está sendo levantada, que é o preço dos hotéis, possa ser superada para que todos possam vir a Belém”, declarou.

As críticas ganharam repercussão depois que a imprensa internacional revelou que motéis da cidade estariam sendo adaptados para receber participantes. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA) estima que Belém tenha 4.122 quartos, já incluindo hotéis, hospedarias e motéis, e que a maioria já esteja ocupada.

Diante disso, o governo federal anunciou soluções alternativas para suprir a demanda estimada de mais de 50 mil acomodações. Entre as propostas estão a adaptação de escolas públicas como hostels (5 mil vagas), uso de alojamentos militares e religiosos (3.500 leitos), navios de cruzeiro (6 mil leitos) e até prédios do programa “Minha Casa Minha Vida” ainda em obras. A região metropolitana da capital também oferece 18 mil acomodações adicionais.

Como resposta, foi lançada uma plataforma para centralizar a oferta de hospedagens. De acordo com a organização da COP, essa plataforma vinha sendo prometida desde maio e agora começa a operar, oferecendo diárias em diferentes modalidades, como hotéis, aluguel por temporada e navios. Inicialmente, ela atenderá países em desenvolvimento e insulares, com diárias limitadas a US$ 220. Em etapas futuras, demais países, jornalistas e observadores poderão reservar acomodações com valores de até US$ 600 por diária.

Apesar disso, o G1 verificou que muitos dos imóveis listados na plataforma ultrapassam os US$ 300, mesmo oferecendo mais de um quarto. O governo não detalhou se essas ofertas se sobrepõem às reservadas para países em desenvolvimento em cooperação com a UNFCCC.

A crise nas acomodações motivou uma reunião urgente da ONU, realizada na última terça-feira (29), para discutir os preços considerados abusivos. O Brasil se comprometeu a apresentar um relatório até 11 de agosto. Em abril, o governo havia sugerido um acordo com hotéis de Belém para evitar cobranças excessivas, mas o compromisso ainda não foi assinado.

Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, declarou à agência Reuters que as delegações africanas não aceitarão reduzir sua representação no evento devido à alta dos custos. Vanessa Robinson, consultora que auxilia ONGs na busca por hospedagens, relata que muitas organizações enfrentam barreiras financeiras intransponíveis. "É difícil porque as organizações são importantes no debate. A gente quer uma COP com participação popular, mas os preços estavam inviabilizando isso", explicou.

Robinson afirmou ter recebido cotações de até R$ 77 mil para o aluguel de uma casa, além de comissões de imobiliárias que chegam a 20%. Ela também atendeu ONGs do México e da Indonésia com orçamento diário de até US$ 150, mas teve dificuldade em encontrar acomodações compatíveis. Em um dos casos, uma organização mexicana conseguiu uma hospedagem próxima ao evento por US$ 1.400 a diária para seis pessoas, incluindo transporte e alimentação.

Lago concluiu que o problema, por ter se tornado público, exige comunicação mais intensa com todas as partes envolvidas e garantiu que soluções estão sendo buscadas. Ele assegurou que a questão não é a quantidade ou a infraestrutura, mas sim os valores cobrados, e que o país está empenhado em resolver a situação.

Texto/Fonte: G1