A decisão do governo federal de zerar tarifas de importação de alguns alimentos tem efeito simbólico e impacto limitado na inflação e nos preços para o consumidor, segundo especialistas ouvidos pelo g1 na região de Piracicaba (SP). A medida, embora represente uma resposta política à alta dos preços, tende a ter eficácia econômica reduzida por fatores estruturais e conjunturais.

Renan Pieri, professor da FGV, afirmou que os produtos com tarifas zeradas — como o café — são majoritariamente itens que o Brasil já exporta em larga escala, o que limita os efeitos da medida. Ele também destacou que fatores como a safra atual, que pode ser recorde, e as condições climáticas terão peso maior na queda de preços do que a isenção fiscal.

Antonio Marcio Buainain, da Unicamp, considera a decisão do governo "simbólica", apontando que ela pode coibir especulações injustificadas, mas não resolve o problema estrutural da inflação de alimentos. Ele mencionou a quebra de safra e fatores sazonais como principais causas da alta nos preços, especialmente do café e dos ovos.

Carlos Vian, da Esalq-USP, reforçou que a medida não trará impacto significativo, sugerindo alternativas como campanhas educativas e negociações entre produtores e varejistas. Ele também lembrou que o Brasil, como grande exportador agrícola, já possui taxação zero para exportações, o que torna a importação desses produtos pouco expressiva.

Igor Vasconcelos Nogueira, do IFSP, foi o único a enxergar potencial de curto prazo na ação, desde que vista como emergencial. No entanto, alertou para riscos como a desvalorização da produção nacional, maior dependência externa, perda de arrecadação e impactos limitados por gargalos logísticos.

Os especialistas concordam que medidas estruturais, como incentivos à produção, melhorias logísticas e fortalecimento da cadeia produtiva nacional, seriam mais eficazes para reduzir de forma sustentada os preços dos alimentos.