A ofensiva tarifária do presidente Donald Trump contra o Brasil não só provocou tensão diplomática, mas também alterou a dinâmica política interna brasileira, aproximando eleitores moderados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A avaliação é do diretor da Quaest, Felipe Nunes, com base nos dados da mais recente pesquisa do instituto.
Segundo Nunes, o “tarifaço” unificou lulistas, setores da esquerda e eleitores sem identificação partidária, ao mesmo tempo que dividiu a direita e os apoiadores de Jair Bolsonaro. “Empurrou o centro para o colo do Lula”, afirmou o pesquisador.
Os dados mostram que a aprovação do presidente Lula subiu três pontos em julho, chegando a 43%, enquanto a desaprovação recuou quatro pontos, para 53%. A mudança, embora dentro da margem de erro geral, foi mais expressiva em segmentos fora da base tradicional do petista:
No Sudeste, a aprovação subiu oito pontos, para 40%, e a desaprovação caiu outros oito, para 56%.
Entre pessoas com ensino superior completo, a aprovação cresceu 12 pontos (45%) e a desaprovação caiu 11 (53%).
Na faixa de renda entre dois e cinco salários mínimos, a aprovação subiu para 52%, e a desaprovação caiu para 43%.
Nunes destaca que o impacto maior foi entre os eleitores que dizem não ter posicionamento político, onde a aprovação subiu cinco pontos (para 38%) e a desaprovação caiu sete. “Não foi entre os mais pobres nem os mais ricos que captamos mudança. Foi nos setores de renda média”, afirmou.
Apesar da melhora na imagem do presidente, a percepção sobre a economia não teve grande variação. A parcela da população que acredita que a situação econômica piorou caiu dois pontos (48%), enquanto os que veem melhora aumentaram três (21%). A economia, segundo a análise, teve papel secundário na recuperação de Lula.
Outro fator avaliado foi a campanha do governo pela taxação dos super-ricos. Apesar de ter apoio de 60% da população, a iniciativa teve baixa penetração: só 43% souberam da campanha, e apenas 17% viram os vídeos produzidos com inteligência artificial. A maioria (79%) acredita que o conflito com o Congresso em torno do tema é prejudicial ao país.
A pesquisa ainda mostra que até entre bolsonaristas há percepção crítica ao tarifaço: 48% desse grupo dizem que Trump está errado em retaliar o Brasil por suposta perseguição judicial a Bolsonaro — número que sobe para 77% entre os eleitores não alinhados politicamente.
Para Nunes, o embate com Trump foi o fator central que reposicionou Lula no debate público. “Lula e o PT venceram a batalha da opinião pública contra Bolsonaro e seus aliados, pelo menos até aqui”, afirmou.
Assim, o que começou como uma crise comercial pode ter se tornado, paradoxalmente, um impulso político para o governo brasileiro.