Enquanto os testes de gravidez se consolidaram como ferramentas seguras e de uso amplo, os exames hormonais para detectar a menopausa ainda dividem opiniões entre especialistas. Diferentemente do diagnóstico da gestação, baseado na detecção do hormônio HCG, os exames voltados para o climatério avaliam substâncias como FSH, LH, AMH e estradiol — cujas concentrações variam consideravelmente durante a transição para a menopausa.
De acordo com o ginecologista Luiz Francisco Cintra Baccaro, membro da Comissão Nacional Especializada em Climatério da Febrasgo, essa oscilação hormonal compromete a precisão dos testes. “No climatério, a dosagem do FSH varia ao longo dos meses. Já no caso da gravidez, o HCG é determinante: ou há produção, ou não há”, explica.
Apesar disso, os exames podem ser úteis em situações específicas. São recomendados quando há dúvidas sobre o diagnóstico clínico, especialmente em mulheres com menos de 45 anos que apresentam sinais de hipoestrogenismo ou suspeita de menopausa precoce. Flávia Fairbanks, ginecologista e pesquisadora da USP, ressalta, no entanto, que se trata de uma tecnologia ainda em desenvolvimento e sujeita a interferências, principalmente em testes de urina.
A orientação predominante no Brasil e no exterior é que o diagnóstico da menopausa deve ser clínico, baseado em sintomas como ondas de calor, insônia e alterações no ciclo menstrual. A Febrasgo, a Menopause Society e a European Menopause and Andropause Society (EMAS) indicam que a ausência de menstruação por 12 meses consecutivos, sem outras causas, é o critério fundamental para confirmar o quadro.
Um artigo recente na revista The BMJ reforçou essa posição, destacando que a interpretação isolada dos testes hormonais é insuficiente. Os pesquisadores apontam que não existe uma janela terapêutica claramente definida para o uso da terapia hormonal apenas a partir dos resultados laboratoriais.
Segundo os especialistas, os exames podem funcionar como apoio ao diagnóstico em casos de incerteza, mas não substituem a avaliação médica. Além disso, distúrbios endócrinos, síndrome dos ovários policísticos ou até o uso de anticoncepcionais podem interferir nos resultados, dificultando a análise.
Baccaro e Fairbanks destacam que a decisão clínica envolve aspectos físicos, de saúde geral e emocionais, exigindo cautela. “Não se pode definir um diagnóstico tão delicado apenas por um valor de exame. É preciso avaliar cada paciente com atenção e responsabilidade”, conclui Fairbanks.