Foto: Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters
Friday, 22 de August de 2025 - 14:47:13
Especialistas apontam razões estratégicas e simbólicas por trás da ação dos EUA
TRUMP ENVIA NAVIOS À VENEZUELA EM MANOBRA DE PRESSÃO POLÍTICA

O envio de navios americanos à Venezuela, promovido pelo presidente Donald Trump, está inserido em uma estratégia mais ampla de pressão sobre governos latino-americanos, segundo Thiago Rodrigues, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense. A medida é interpretada como resposta ao crescimento da influência da China na região e às negociações do bloco BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que incentivam a desdolarização das transações comerciais.

Rodrigues destaca que, embora possa parecer desconexo relacionar narcotráfico, crime organizado e comércio internacional, essas questões se interligam quando o objetivo é pressionar governos por múltiplos meios. Ao mesmo tempo, ele considera improvável que a pressão se transforme em ação militar efetiva, citando a capacidade das forças armadas venezuelanas pró-governo e bem equipadas, o que dificulta qualquer operação americana direta.

A manobra também cumpre um papel simbólico de intimidação e reforça a narrativa de combate ao narcotráfico e ao crime transnacional, que ressoa junto a parte do público brasileiro. Paralelamente, o governo venezuelano respondeu mobilizando milícias e reforçando sua capacidade militar, evidenciando o caráter mais retórico do que propriamente bélico da ação americana.

Além disso, o episódio demonstra a complexidade das relações internacionais no continente. Enquanto o Brasil intensifica sua participação no BRICS e aprofunda relações comerciais com a China, movimentos como o de Trump são vistos como tentativas de manter a influência dos EUA na região, utilizando desde ferramentas econômicas até demonstrações de força militar simbólica.

A acusação formal de narcoterrorismo contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro e seus aliados, incluindo membros do alto escalão militar, soma-se à manobra como elemento de pressão política. Para Rodrigues, a iniciativa dos EUA serve sobretudo para reforçar a imagem de poder e dissuadir movimentos considerados adversos aos interesses americanos, sem intenção concreta de iniciar um conflito armado.

Texto/Fonte: G1