Embora seja frequentemente associado à alimentação saudável e ao ganho de massa muscular, o whey protein pertence à categoria dos alimentos ultraprocessados, segundo a Classificação Nova e o Guia Alimentar para a População Brasileira. O suplemento, feito a partir do soro do leite, passa por diversas etapas industriais que transformam completamente sua matriz alimentar original, incluindo filtração, secagem e adição de emulsificantes, flavorizantes, adoçantes e corantes.
No entanto, nutricionistas ressaltam que, apesar de estar no mesmo grupo de alimentos como biscoitos recheados, refrigerantes e salgadinhos, o whey possui objetivos nutricionais muito distintos. “Enquanto o whey protein é usado para suprir necessidades específicas de proteína, alimentos como salgadinhos e bolachas são voltados ao consumo recreativo e têm composição nutricional muito inferior”, afirma Lívia Horácio, nutricionista pela Unifesp.
A vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva (ABNE), Michele Trindade, explica que o whey é um concentrado proteico de alto valor biológico e baixo teor de carboidratos e gorduras. Ainda assim, os potenciais prejuízos não vêm da proteína em si, mas do fato de ser um produto ultraprocessado, rico em aditivos como sucralose, estévia, emulsificantes e aromatizantes.
Os especialistas apontam que, embora o whey e outros ultraprocessados compartilhem características como o uso de aditivos, descaracterização do alimento original e alta palatabilidade, os impactos no organismo são diferentes. “O consumo excessivo de boa parte dos ultraprocessados está ligado a doenças crônicas, enquanto o whey, se usado com moderação, pode ser benéfico”, destaca Trindade.
Ainda assim, os nutricionistas alertam para três pontos principais de atenção em relação ao consumo frequente do suplemento: a exposição crônica a aditivos alimentares, o risco de substituição de refeições completas por shakes e a menor saciedade proporcionada pela forma líquida ou em pó. A nutricionista Isabela Gouveia, mestre em Ciências de Alimentos pela USP, observa que “trocar alimentos integrais por suplementos pode comprometer a ingestão de fibras, vitaminas e fitoquímicos presentes nos alimentos in natura”.
Outro risco está na ingestão calórica desbalanceada. Apesar da proteína proporcionar saciedade, o formato líquido ou em pó do whey pode levar ao consumo maior de calorias ao longo do dia, se não houver planejamento nutricional adequado.
Trindade pondera que, mesmo sendo ultraprocessado, o whey ainda apresenta riscos muito menores do que os associados a alimentos ricos em açúcares, gorduras saturadas e sódio. Ela reforça que o foco deve estar no padrão alimentar como um todo. “Uma dieta saudável deve ser baseada em alimentos in natura ou minimamente processados. O whey deve ser apenas um complemento, e não a base da ingestão de proteínas”, finaliza.