As recentes movimentações militares dos Estados Unidos no Caribe reacenderam o temor de uma possível ofensiva contra a Venezuela. O presidente Donald Trump afirmou estar convencido de que o governo de Nicolás Maduro sente os efeitos da pressão americana, justificada oficialmente por uma “guerra ao narcotráfico”.
O mais recente episódio foi a chegada de um navio de guerra dos EUA a Trinidad e Tobago no domingo (26). Autoridades locais confirmaram a realização de exercícios conjuntos com forças americanas, enquanto relatos de sobrevoos de bombardeiros próximos à costa venezuelana foram inicialmente divulgados pela imprensa dos EUA e, depois, negados por Trump.
O presidente também declarou ter autorizado operações secretas da CIA no país vizinho. Paralelamente, o Pentágono anunciou ter afundado dez embarcações supostamente usadas pelo narcotráfico — ações consideradas ilegais por especialistas.
Analistas militares ouvidos pela DW avaliam que a ofensiva tem caráter mais demonstrativo do que operacional. Uma fonte espanhola ligada às Forças Armadas destacou que ataques aéreos seletivos com mísseis seriam o passo inicial de uma eventual intervenção. “A CIA busca inteligência para fomentar rebeliões internas nas forças militares venezuelanas”, afirmou.
O coronel aposentado americano Manuel Supervielle ressaltou que o uso de bombardeiros B-1 a longas distâncias seria uma possibilidade, evitando riscos às tropas dos EUA. Para ele, a superioridade tecnológica americana permitiria ataques sem exposição direta no campo de batalha.
A jornalista venezuelana Sebastiana Barráez avalia que possíveis alvos seriam “laboratórios” ou “acampamentos guerrilheiros” ligados ao tráfico de drogas, estratégia que facilitaria a justificativa internacional de uma intervenção. Ela também menciona a hipótese de uma operação para capturar altas autoridades, incluindo o próprio Maduro, acusado por Washington de liderar o “Cartel de los Soles”, classificado por Trump como organização terrorista.
Supervielle acrescenta que ataques cirúrgicos contra figuras-chave do governo poderiam gerar instabilidade e abrir espaço para uma transição de poder liderada por militares dissidentes.
A crise política venezuelana permanece em ebulição desde a eleição de 2024, contestada pela oposição e considerada fraudulenta. Tanto os Estados Unidos quanto o Parlamento Europeu reconhecem Edmundo González Urrutia como o presidente legítimo.
Enquanto isso, Nicolás Maduro afirma que o país mantém “nervos de aço” diante das ameaças externas e cita o apoio de aliados como Rússia e China. “Graças ao presidente Putin, à Rússia, à China e a muitos amigos no mundo, a Venezuela tem equipamento para garantir a paz”, declarou.
Para especialistas, o envolvimento chinês e russo adiciona complexidade geopolítica ao cenário, tornando improvável uma ofensiva direta de larga escala. Em meio à tensão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se posicionou como mediador, reiterando que “a América do Sul deve permanecer uma zona de paz” e pedindo que conflitos globais não sejam importados para o continente.