O antigo Hotel Nota 10, um ex-motel no centro de Belém, virou centro das atenções após viralizar por cobrar diárias de até R$ 7 mil para o período da COP30, conferência climática da ONU que será realizada em novembro de 2025. Reformado e rebatizado como “Hotel COP30”, o local teve os preços reajustados para R$ 2.275, mas continua sendo um exemplo dos impactos da especulação hoteleira durante o evento.
O hotel, localizado no bairro da Campina, tem 17 quartos distribuídos em três andares — todos acessíveis apenas por escadas. A estrutura foi completamente reformada em 2024 após ser adquirida por novos proprietários. Os quartos agora contam com ar-condicionado, frigobar, chuveiro elétrico e mobília nova. A recepção foi redecorada com elementos regionais e o terraço serve como área comum para refeições, oferecendo café da manhã típico com tapioca e suco de cupuaçu.
O gerente Alcides Moura afirma que a escolha do nome “Hotel COP30” é uma forma de mostrar engajamento com o evento, embora o estabelecimento não tenha nenhuma ligação oficial com a conferência. Segundo ele, os preços altos inicialmente publicados foram um "teste de mercado". “Nenhuma diária foi vendida por R$ 7 mil”, garantiu. Os valores foram "reformulados" após a repercussão negativa e a visita da equipe do g1.
Apesar da ampla exposição nas redes sociais e da cobertura na imprensa, o hotel ainda não tem reservas confirmadas para o período da cúpula. De acordo com a administração, as principais cotações têm vindo de estrangeiros interessados em reservar todos os quartos de uma só vez. O gerente diz estar disposto a seguir qualquer diretriz oficial de preços. “Se o governo disser que o teto é 300 dólares, a gente obedece. Mas até agora, ninguém falou nada.”
A crise na hospedagem se estende a toda Belém, que viu uma explosão nos preços após a confirmação da cidade como sede da COP30. Países em desenvolvimento e até nações europeias reclamaram dos valores, com algumas diárias chegando a R$ 3.500 por pessoa. O presidente da COP, André Corrêa do Lago, confirmou que delegações pediram a transferência da conferência para outra cidade, em razão dos custos "extorsivos".
Em reunião de emergência do “COP bureau”, liderada pelo Grupo Africano de Negociadores, o Brasil se comprometeu a apresentar soluções até 11 de agosto. Um relatório da ONU obtido pela Reuters confirmou que o encontro foi motivado pelas preocupações com hospedagem, consideradas um obstáculo à participação de países mais pobres.
Para amenizar a situação, o governo federal anunciou a contratação de dois navios de cruzeiro que somarão 6 mil leitos temporários, além da abertura de acomodações acessíveis com diárias de até US$ 220. No entanto, esse valor ainda está acima do auxílio-moradia da ONU, fixado em US$ 149 para Belém. Países como Holanda e Polônia admitem reduzir drasticamente o tamanho de suas delegações.
Autoridades brasileiras dizem estar trabalhando para garantir condições adequadas para todos os participantes. Porém, o Itamaraty não se pronunciou oficialmente. Segundo Corrêa do Lago, o diálogo com o setor hoteleiro é a única ferramenta disponível, já que a legislação brasileira não permite impor um teto aos preços cobrados pela rede privada.
Mesmo com as polêmicas, o Hotel COP30 segue apostando na visibilidade. A gerência promete reforçar a ambientação amazônica durante a conferência, com decoração artesanal e pratos típicos como maniçoba e pato no tucupi. “Queremos mostrar o que Belém tem de melhor”, afirma Alcides.