Foto: REUTERS/Gary Hershorn/File Photo
Tuesday, 04 de November de 2025 - 16:21:08
Ex-vice-presidente dos EUA morre aos 84 anos após complicações de saúde
MORTE DE DICK CHENEY

Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e uma das figuras mais influentes e controversas da política americana contemporânea, morreu na noite de segunda-feira (3), aos 84 anos, em decorrência de complicações causadas por pneumonia e problemas cardíacos e vasculares, informou a família.

Cheney exerceu o cargo entre 2001 e 2009, durante o governo de George W. Bush, e ficou marcado por seu papel central na chamada “guerra ao terror”, lançada após os ataques de 11 de setembro de 2001. Considerado o arquiteto da invasão ao Iraque, em 2003, defendeu a tese de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa — algo jamais comprovado.

Sua influência dentro da Casa Branca era tamanha que muitos analistas o descreviam como o vice-presidente mais poderoso da história americana. Cheney defendia o fortalecimento do poder executivo, que, em sua visão, havia sido enfraquecido desde o escândalo de Watergate. Ele ampliou a relevância política do cargo ao chefiar uma equipe de segurança nacional que funcionava quase como um núcleo paralelo de decisões dentro do governo Bush.

Durante a gestão, entrou em atrito com figuras importantes da administração, como Colin Powell e Condoleezza Rice. Também foi um dos principais defensores das chamadas “técnicas aprimoradas de interrogatório”, que incluíam métodos classificados por organismos internacionais como tortura — entre eles, o afogamento simulado e a privação de sono. O Comitê de Inteligência do Senado e a ONU condenaram essas práticas.

Em 2024, Cheney, republicano histórico, surpreendeu ao declarar apoio à democrata Kamala Harris na disputa pela presidência, afirmando que o então presidente Donald Trump “não servia para o cargo”. Sua filha, Liz Cheney, também rompeu com o trumpismo e se destacou por liderar a investigação parlamentar sobre a invasão ao Capitólio, além de ter votado pelo impeachment de Trump.

Com uma longa trajetória de problemas cardíacos, Cheney sobreviveu a cinco ataques e chegou a realizar um transplante de coração em 2012. Ele costumava dizer que acordava todos os dias “agradecido por mais um dia de vida”. Em entrevista, revelou inclusive ter desativado o sinal sem fio de seu desfibrilador por receio de que hackers ou terroristas pudessem controlá-lo à distância.

Antes de se tornar vice-presidente, Cheney havia sido secretário de Defesa durante o governo de George H. W. Bush, comandando as forças americanas na Guerra do Golfo. Também foi deputado por Wyoming e já era um nome de peso em Washington quando foi escolhido para compor a chapa republicana de 2000, que venceu a disputa contra o democrata Al Gore.

Durante os ataques de 11 de setembro, Cheney atuou como figura-chave na Casa Branca, enquanto Bush estava fora da capital. Relatos apontam que, após os atentados, ele operou por longos períodos em locais não revelados, a fim de garantir a continuidade da liderança caso novos ataques ocorressem.

Embora tenha perdido influência no segundo mandato de Bush, sua marca na política externa americana permaneceu. Para admiradores, foi um homem firme em tempos de crise; para críticos, um símbolo de um período de excessos e violações de direitos.

“Quando aceitei o cargo de vice-presidente, decidi que minha única agenda seria a do presidente”, afirmou Cheney certa vez, explicando sua postura discreta, mas profundamente estratégica. Sua morte encerra a trajetória de uma das figuras mais decisivas e polarizadoras do poder americano no início do século 21.

Texto/Fonte: G1