Foto: Anderson Lepeco
Wednesday, 30 de April de 2025 - 09:05:14
Fóssil da formiga mais antiga do mundo é encontrado na Bacia do Araripe
DESCOBERTA PALEONTOLÓGICA NO CEARÁ

Pesquisadores anunciaram a descoberta do fóssil da formiga mais antiga já registrada no planeta, encontrado na Chapada do Araripe, região do Cariri, no sul do Ceará. A espécie, batizada de Vulcanidris cratensis, pertence a um grupo extinto conhecido como formigas-do-inferno e tem idade estimada de 113 milhões de anos. A descoberta foi publicada em artigo científico na revista Current Biology em 24 de abril.

O fóssil foi localizado na Formação Crato, uma unidade geológica situada na Bacia do Araripe, entre os municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri e Crato. Ele integra o acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) há cerca de cinco anos e foi estudado por uma equipe de cientistas, incluindo o entomologista Anderson Lepeco, vinculado à instituição.

De acordo com o estudo, a Vulcanidris cratensis antecede em cerca de 13 milhões de anos os registros anteriores mais antigos de formigas, encontrados em fósseis de âmbar na França e em Mianmar. Com isso, ela se torna o registro mais antigo conhecido de formigas na ciência atual. A descoberta é especialmente relevante para compreender a evolução dos insetos sociais mais abundantes do planeta, presentes em todos os continentes, exceto na Antártida.

A nova espécie pertence à subfamília Haidomyrmecinae, grupo extinto que viveu exclusivamente durante o período Cretáceo, entre 145 e 65 milhões de anos atrás. Fósseis dessa subfamília já haviam sido encontrados em Mianmar, e as semelhanças morfológicas sugerem que essas formigas estavam amplamente distribuídas globalmente durante aquele período.

O exemplar encontrado no Ceará é uma fêmea com aproximadamente 1,35 cm de comprimento. Um de seus traços mais marcantes são as mandíbulas em forma de foice, característica típica das formigas-do-inferno, possivelmente usadas para capturar presas. A análise do fóssil foi feita por meio de tomografia computadorizada, permitindo uma observação detalhada da estrutura interna do inseto.

A anatomia singular da Vulcanidris cratensis levanta questões científicas importantes sobre a adaptação precoce das formigas e os fatores ambientais que impulsionaram sua evolução ao longo de milhões de anos.

O nome da nova espécie presta homenagem ao Brasil de duas formas: o gênero Vulcanidris reconhece a contribuição da família de Maria Aparecida Vulcano, que doou uma valiosa coleção de fósseis ao Museu de Zoologia da USP, e o epíteto cratensis faz referência direta à Formação Crato, local de origem do fóssil.

A Bacia do Araripe, onde a descoberta foi feita, é uma das áreas mais ricas em fósseis do país. Já foram identificadas mais de 600 espécies de insetos na região, além de plantas com flores fossilizadas, preservadas com estruturas completas de raiz, caule e fruto. O excepcional estado de preservação se deve, em parte, à existência de um antigo lago na Formação Crato, onde organismos mortos eram rapidamente soterrados, evitando a decomposição por bactérias e fungos.

A região abriga hoje o Geopark Araripe, reconhecido pela Unesco como geoparque por sua relevância científica, educacional e turística. O parque conta com 11 geossítios abertos à visitação, onde é possível conhecer de perto a impressionante riqueza paleontológica do Ceará.

Texto/Fonte: G1