O Palácio do Planalto passou a considerar que as big techs estariam entre os principais responsáveis pela imposição de tarifas comerciais dos Estados Unidos contra o Brasil, anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump. A hipótese vem ganhando força entre interlocutores próximos do presidente Lula, que enxergam nas ações do republicano não apenas motivações econômicas, mas interesses ligados à regulação digital e à pressão de grandes empresas de tecnologia.
Nos bastidores do governo brasileiro, surgiu a chamada "tese do BBB", com três possíveis vetores por trás do tarifaço: Bolsonaro, Brics e big techs. Segundo três fontes ouvidas pelo colunista Octavio Guedes, a interpretação mais plausível atualmente é que as big techs estejam exercendo influência direta ou indireta sobre a postura americana.
De acordo com um assessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro seria apenas um "boi de piranha", uma distração útil para permitir que Trump canalize críticas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), sob o pretexto de censura, ao mesmo tempo em que defende os interesses das plataformas digitais. O argumento é de que as big techs têm se oposto à atuação do STF, especialmente diante da ausência de uma legislação aprovada pelo Congresso para regulamentar as redes sociais.
A ligação entre Trump e as big techs se evidenciaria em recentes declarações do ex-presidente americano, que acusou a Justiça brasileira de promover uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro e atacou decisões da Corte que restringiram o alcance de conteúdos falsos e discursos de ódio nas plataformas digitais.
Outro fator que reforça a suspeita do governo Lula sobre o envolvimento de grandes empresas de tecnologia é o interesse norte-americano na energia de Itaipu. Segundo apurações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Brasil suspeita que ONGs paraguaias estariam sendo incentivadas por Washington a defender o fim do acordo energético Brasil–Paraguai. Isso abriria caminho para que o Paraguai vendesse seu excedente de energia diretamente a outras nações — incluindo os Estados Unidos.
A motivação, conforme fontes do governo, seria abastecer os data centers de inteligência artificial de gigantes da tecnologia, que consomem volumes crescentes de eletricidade. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, chegou a declarar abertamente que o país tem interesse na energia de Itaipu para atender a esses centros de dados.
Diante do cenário, o governo brasileiro vê com preocupação o entrelaçamento de interesses políticos, econômicos e corporativos no tarifaço anunciado por Trump, que impõe 50% de sobretaxa sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. O Planalto segue buscando alternativas diplomáticas para reverter a medida, enquanto amplia sua leitura geopolítica sobre os reais motivadores da ação norte-americana.