A ofensiva militar de Israel contra o Irã proporcionou ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu um respiro político ao redirecionar o foco da opinião pública e aliviar pressões internas que vinham desgastando seu governo. Criticado por aliados e adversários, e enfrentando múltiplos processos por corrupção, Netanyahu agora lidera a mais significativa campanha militar de sua carreira, tentando reformular seu legado diante do país e do mundo.
O conflito com o Irã, iniciado com a justificativa de destruir o programa nuclear inimigo, rapidamente revelou um propósito mais ambicioso: a tentativa de provocar uma mudança de regime em Teerã. Essa narrativa se encaixa no sentimento de constante ameaça existencial que marca a identidade israelense, frequentemente alimentado pelos discursos do regime iraniano.
A unidade momentânea da população israelense, diante dos ataques com mísseis e drones, silenciou críticas à condução da guerra em Gaza, que já dura 621 dias, e deixou em segundo plano crises humanitárias, o destino dos reféns e o impasse sobre o alistamento de judeus ultraortodoxos. Com o foco deslocado para o Irã, temas que ameaçavam a coesão da coalizão governista, como a convocação de religiosos e as investigações internacionais por crimes de guerra, também foram temporariamente abafados.
A atual campanha oferece a Netanyahu um trunfo político: a guerra, mesmo com seus riscos e incertezas, criou uma trégua nas críticas e fortaleceu a imagem de liderança frente a uma ameaça externa. No entanto, permanece a incógnita: o premiê demonstrou saber como começar uma guerra, mas ainda não apresentou uma estratégia viável para encerrá-la — nem em Gaza, nem agora em Teerã.
Enquanto isso, os custos humanitários e geopolíticos da escalada militar continuam a crescer, tornando incerta a durabilidade dessa vantagem política conquistada no campo de batalha.