Foto: Nate SIlver
Friday, 11 de July de 2025 - 14:55:07
Guerra comercial de Trump com Brasil pode beneficiar Lula, apontam analistas e histórico internacional
TARIFAS DE TRUMP JÁ IMPULSIONARAM RIVAIS EM OUTROS PAÍSES

O anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros feito por Donald Trump pode, na prática, reforçar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa é a avaliação de especialistas diante de episódios semelhantes ocorridos em outros países, nos quais medidas protecionistas do republicano acabaram fortalecendo politicamente os líderes que foram alvo das sanções.

Segundo a carta divulgada por Trump na quarta-feira (9), as novas tarifas entram em vigor em 1º de agosto. Diferente de medidas anteriores, baseadas em argumentos econômicos, o documento cita abertamente motivações políticas e defende o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem Trump diz ser vítima de uma “caça às bruxas” no Brasil. A alegação sobre o suposto déficit comercial com o Brasil, usada como justificativa para as tarifas, é incorreta: os EUA registram superávit nas trocas com o país desde 2009.

A retaliação ao governo Lula se dá no momento em que o petista enfrenta sua pior avaliação desde o início do mandato. A pesquisa Quaest de junho mostrou que 57% dos brasileiros desaprovam seu governo. No entanto, analistas avaliam que o gesto de Trump pode gerar efeito reverso, impulsionando a popularidade do presidente brasileiro diante do eleitorado, assim como ocorreu no Canadá, México, Reino Unido e União Europeia.

Casos semelhantes
No México, as ameaças tarifárias de Trump fizeram a aprovação da presidente Claudia Sheinbaum atingir 80% no auge da crise, após manifestações de orgulho nacional. No Canadá, o Partido Liberal reverteu desvantagem nas pesquisas e venceu as eleições legislativas após críticas à postura dos EUA.

No Reino Unido, a popularidade do premiê Keir Starmer cresceu 10 pontos durante a crise comercial. Já na França, o presidente Emmanuel Macron teve alta de 7 pontos em sua aprovação após confrontar publicamente Trump e sua retórica protecionista.

A consultoria Eurasia afirma que o mesmo cenário pode se repetir no Brasil. Para o analista político Ian Bremmer, a atitude de Trump tende a enfraquecer Bolsonaro e fortalecer Lula: “Acho que o tiro vai sair pela culatra. É um grande erro em todos os níveis.”

Histórico de blefes e recuos
Apesar das constantes ameaças, muitas tarifas anunciadas por Trump não foram efetivamente aplicadas. Algumas foram suspensas ou renegociadas, como as dirigidas a Canadá, México e União Europeia. O comportamento errático levou o mercado financeiro a cunhar a expressão “Trump Always Chickens Out” (“Trump sempre amarela”).

Mesmo assim, as medidas têm impactos reais. As ameaças a produtos britânicos resultaram em negociações que culminaram na eliminação de tarifas para setores estratégicos do Reino Unido. Já na Europa, a ofensiva impulsionou a percepção positiva sobre a União Europeia, atingindo recordes históricos de apoio popular ao bloco.

Cenário doméstico desfavorável a Trump
Nos EUA, as políticas tarifárias têm sido mal recebidas. Pesquisa da Reuters mostrou que 57% dos americanos consideram a atuação de Trump na economia “muito errática”. A inflação é a principal preocupação, e 70% acreditam que tarifas elevam os preços internos. A aprovação geral do republicano é de 41%, com 57% de desaprovação.

Brasil mira reação estratégica
Com o início da cobrança das tarifas previsto para 1º de agosto, o governo brasileiro estuda formas de reagir politicamente e comercialmente. O Itamaraty ainda não comentou oficialmente, mas há expectativa de manifestações diplomáticas e de alianças comerciais alternativas.

Enquanto isso, a interpretação política do gesto de Trump se intensifica: ao defender Bolsonaro e atacar Lula, o presidente americano pode ter fornecido um discurso valioso ao atual governo brasileiro, em um momento de adversidade.

Texto/Fonte: G1