O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou em entrevista exclusiva ao programa Estúdio i, nesta segunda-feira (11), que a reunião marcada para quarta-feira (13) com Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, foi cancelada devido à interferência de grupos de extrema direita nos EUA. Segundo Haddad, esses setores antidiplomáticos, ligados à Casa Branca, souberam de sua fala e influenciaram assessores americanos a desmarcar o encontro virtual.
As tratativas para o novo encontro começaram no dia 21 de julho, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedir a Haddad que retomasse o contato com Bessent. O ministro já havia se reunido com o secretário do Tesouro em maio, antes do anúncio das tarifas de 50% impostas por Trump sobre produtos brasileiros, ocasião que Haddad considerou produtiva. No entanto, apesar da expectativa, o encontro não avançou: "Aguardamos até a semana passada o e-mail marcando o dia e a hora, mas o que recebemos foi uma mensagem cancelando a reunião por falta de agenda, algo inusitado", afirmou o ministro.
Haddad também relacionou o cancelamento à declaração pública do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que poucos dias após o anúncio do encontro, afirmou que tentaria impedir qualquer contato entre os governos brasileiro e americano. Para Haddad, essa fala foi determinante: "Não há como não relacionar uma coisa à outra. Não há coincidência nesse tipo de coisa." O ministro tentou remarcar o encontro por meio da assessoria de Bessent, mas não obteve sucesso.
No dia 30 de julho, em rede social, Scott Bessent criticou o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, acusando-o de liderar uma campanha de censura e detenções arbitrárias que violariam direitos humanos, incluindo processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse posicionamento aumentou ainda mais a tensão entre os dois países.
Além disso, Haddad comentou sobre a declaração do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sugeriu que o presidente Lula deveria ligar para Trump para resolver o impasse. O ministro descartou essa possibilidade, dizendo que "não funciona assim". Ele explicou que, enquanto os ministros do Itamaraty, Fazenda e Desenvolvimento não conseguem sequer dialogar, a ideia de que uma simples ligação telefônica resolveria a situação é ingênua, especialmente diante da resistência provocada por "pseudo-brasileiros em Washington".
Mesmo sem perspectivas para reverter o chamado "tarifaço", Haddad informou que irá se reunir ainda hoje com o presidente Lula e com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, para finalizar os detalhes do plano de contingência. Esse plano pretende oferecer suporte aos setores econômicos mais afetados pelas tarifas impostas pelo governo Trump.