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Tuesday, 29 de July de 2025 - 13:47:44
Haddad diz que EUA estão abertos a diálogo sobre tarifaço e governo prepara plano para proteger empregos
CRISE COMERCIAL ENTRE BRASIL E EUA

Às vésperas da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (29) que o governo americano dá sinais de estar disposto a negociar. Segundo ele, o Brasil segue comprometido com a mesa de diálogo, ao mesmo tempo em que prepara medidas de contingência para proteger empregos e empresas nacionais.

Durante entrevista a jornalistas, Haddad destacou que algumas autoridades dos EUA demonstraram sensibilidade quanto à medida e que empresários norte-americanos têm relatado uma maior disposição para conversa. “Já há algum sinal de interesse em conversar. Alguns empresários estão encontrando maior abertura lá”, afirmou. Ele também reiterou que o Brasil jamais abandonou as negociações.

Enquanto mantém os canais diplomáticos abertos, o governo brasileiro articula um plano emergencial, nos moldes dos programas adotados durante a pandemia da Covid-19, para mitigar os impactos das tarifas sobre o mercado de trabalho. Questionado sobre isso, o ministro afirmou que essa possibilidade está em análise. “Existe legislação que prevê esse tipo de programa. Mas quem vai decidir a escala, a conveniência e a data é o presidente Lula”, explicou.

Sobre a data prevista para o início do tarifaço — 1º de agosto —, Haddad afirmou que o prazo ainda pode ser alterado. Ele considera possível que a sobretaxa entre em vigor e seja posteriormente revista, caso haja avanço nas conversas com os norte-americanos. “Não é uma data fatídica. Pode ser alterada por eles. O importante é que os pontos de vista do Brasil estão se tornando mais claros”, declarou.

O anúncio das tarifas foi feito em 9 de julho por meio de carta do presidente Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A justificativa usada por Trump foi política e comercial, mencionando relações internacionais desfavoráveis e a intenção de pressionar países a abrirem seus mercados. Em 23 de julho, ele reforçou que os países com os quais os EUA têm tido “relações ruins” sofrerão as tarifas, e embora não tenha citado nominalmente o Brasil, o país é considerado um dos alvos. No domingo (27), o secretário de Comércio, Howard Lutnick, confirmou que as tarifas entrarão em vigor sem prorrogação.

Haddad também disse que há possibilidade de diálogo direto entre Lula e Trump, desde que haja preparação prévia para garantir uma conversa respeitosa e produtiva. “Não pode ser como já vimos acontecer, com conversas desrespeitosas. É papel dos ministros garantir que os canais estejam preparados para uma negociação digna, que valorize os dois povos e evite qualquer sentimento de subordinação”, frisou.

Diplomatas brasileiros defendem que qualquer contato direto entre os presidentes seja precedido de um entendimento formal para evitar constrangimentos, como os que já ocorreram em outras ocasiões internacionais. Assessores de Lula relatam, no entanto, dificuldades de contato com a Casa Branca.

Enquanto isso, setores empresariais, como o da aviação, expressam preocupação. O CEO da SkyWest declarou que a companhia pode adiar entregas de aeronaves ao Brasil caso a tarifa de 50% seja efetivamente adotada. Já especialistas apontam que a medida tem motivações geopolíticas: para Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, o tarifaço é uma resposta ao alinhamento estratégico do Brasil com os Brics e a China, algo que incomoda os EUA.

Apesar das incertezas, Haddad garantiu que o Brasil está pronto para enfrentar o desafio. “O evento externo não foi provocado por nós. Mas estaremos preparados para proteger nossas empresas, nossos trabalhadores e continuar negociando com racionalidade e respeito mútuo”, afirmou.

Texto/Fonte: G1