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Friday, 15 de August de 2025 - 08:15:21
História, cultura e hábitos explicam por que o país está entre os maiores consumidores mundiais
BRASILEIROS E SUA PAIXÃO PELO AÇÚCAR

O gosto brasileiro pelo açúcar tem raízes profundas, que remontam à colonização portuguesa. A cana-de-açúcar, originária da Papua Nova Guiné, chegou à Europa e depois foi cultivada em larga escala em Portugal no século 14. Com a expansão colonial para o Brasil no século 16, a produção cresceu ainda mais, tornando o açúcar a principal commodity da colônia, sustentada pelo trabalho escravizado nas lavouras e engenhos.

Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, entre 1583 e 1587, os 66 engenhos de Pernambuco produziram quase 3 mil toneladas de açúcar. Boa parte era exportada, mas o acesso ao produto no Brasil permitiu a adoção em receitas de bolos, compotas e doces conventuais, transformando sobremesas como manjar branco, fios de ovos, pães de ló e pastéis em heranças da doçaria portuguesa. A influência africana e indígena reforçou o gosto por frutas doces e o mel natural.

No século 20, a industrialização trouxe novos produtos açucarados, como refrigerantes, bolachas recheadas e, especialmente, o leite condensado, presente em 94% das residências brasileiras, segundo dados de 2020 da Nestlé. Esse ingrediente é base de sobremesas tradicionais, como brigadeiro, mousses e pavês, permitindo combinações variadas com frutas, chocolate e outros sabores. Campanhas de marketing pioneiras chegaram a apresentar o leite condensado como substituto do leite infantil, embora sem base científica.

O impacto do açúcar no Brasil não se limita à culinária. O brigadeiro, por exemplo, surgiu durante a campanha presidencial de 1945 do brigadeiro Eduardo Gomes, ilustrando a relação entre doces e aspectos sociais e políticos do país. Para o antropólogo Gilberto Freyre, o açúcar é fundamental para compreender a identidade brasileira, sendo central em celebrações e visitas familiares, reforçando vínculos sociais.

Receitas brasileiras, em geral, usam mais açúcar do que versões similares em outros países. Um bolo de cenoura com chocolate, por exemplo, pode ter o dobro do açúcar de sua versão inglesa, e o pudim de leite brasileiro supera a receita francesa. O brigadeiro, feito com leite condensado, contém em média 55 gramas de açúcar a cada 100 gramas.

O consumo médio diário de açúcar no Brasil é de 80 gramas, acima do limite recomendado pela OMS de 50 gramas. Esse consumo coloca o país entre os maiores consumidores globais, ao lado de Estados Unidos, Rússia e México, e representa um aumento significativo nas últimas décadas, saindo de cerca de 15 quilos por pessoa nos anos 1930 para 65 quilos atualmente. Aproximadamente 60% desse açúcar vem de alimentos e bebidas industrializados, com o restante presente em produtos processados e ultraprocessados.

O alto consumo, no entanto, traz impactos à saúde. O Ministério da Saúde alerta que o excesso de açúcar está relacionado a doenças crônicas, incluindo obesidade, diabetes tipo 1, hipertensão e problemas cardiovasculares. Nutricionistas recomendam moderação e redução gradual do açúcar, resgatando o sabor natural dos ingredientes e evitando o consumo excessivo de ultraprocessados. Estratégias simples, como adoçar menos cafés e sucos e reduzir gradualmente a adição de açúcar em receitas, podem ajudar a equilibrar prazer e saúde à mesa.

Texto/Fonte: G1