Um incêndio que teve início por volta das 7h40 da manhã atingiu rapidamente o complexo do Dique da Vila Gilda, a maior favela sobre palafitas do Brasil, localizada na Zona Noroeste de Santos, São Paulo. A propagação das chamas ocorreu de forma acelerada devido à dificuldade de acesso ao local e à estrutura de madeira das moradias.

Para conter o fogo, 46 agentes do Corpo de Bombeiros foram mobilizados com quinze viaturas, operando em três frentes simultâneas para combater o incêndio em uma área de aproximadamente 3 mil metros quadrados. Segundo o capitão Thiago Pinheiro Duarte, que falou à TV Tribuna, afiliada da Globo, o apoio da Sabesp e das viaturas das cidades vizinhas, como Cubatão e São Vicente, foi essencial para o sucesso do combate.

Durante o trabalho de rescaldo, quando as equipes realizavam o resfriamento da área para impedir que o fogo reiniciasse, um corpo foi encontrado. A vítima, provavelmente uma mulher de cerca de 60 anos, teria sido retirada de sua residência, mas decidiu retornar para buscar pertences pessoais mesmo com o avanço das chamas. A perícia foi acionada para confirmar a identidade da vítima.

O prefeito de Santos, Rogério Santos (Republicanos), informou que a cidade já iniciou o cadastramento das famílias afetadas no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Bom Retiro. Além disso, ele destacou que serão priorizados abrigos, incluindo a verificação da disponibilidade de escolas para receber moradores que perderam suas casas e não tenham familiares para acolhimento.

Rogério também ressaltou o papel do Fundo Social de Solidariedade como ponto de arrecadação de doações, como roupas, alimentos e água potável, que podem ser entregues na Avenida Conselheiro Nébias, 388. Para complementar o apoio, o Centro de Gerenciamento de Emergências da Defesa Civil Estadual enviou equipes para prestar auxílio humanitário, distribuindo kits de higiene, limpeza e cestas básicas na Rua Brigadeiro Faria Lima, 677.

No meio da correria causada pelas chamas, muitos moradores tentaram salvar documentos, móveis e eletrodomésticos, como fogões e geladeiras, dos seus imóveis, numa tentativa desesperada de minimizar as perdas.

A comunidade afetada vive sobre palafitas — estruturas de madeira elevadas sustentando as casas sobre a água. Essa característica torna as moradias vulneráveis, não só às cheias provocadas pela maré alta do rio, que dificultam a locomoção e causam danos às casas, mas também aos incêndios, que são frequentes no local.

Segundo o Censo do IBGE de 2022, cerca de 3,5 mil famílias residem no Dique da Vila Gilda, às margens do Rio dos Bugres.

Como resposta a esses desafios, a Prefeitura de Santos está implementando o projeto-piloto Parque Palafitas, que prevê a construção de 60 unidades habitacionais modernas e sustentáveis no Dique da Vila Gilda. O projeto foi viabilizado por meio da cessão de uma área da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), órgão do Governo Federal, à Prefeitura em janeiro deste ano.

Serão construídos seis conjuntos habitacionais, sendo quatro prédios de apartamentos com 44 unidades, e dois blocos de casas térreas, com oito residências cada. Também estão previstos dois prédios comerciais e um edifício para a associação de moradores.

As moradias terão piso e paredes feitos de painéis de madeira laminada para preservar a identidade local, e as casas mais vulneráveis junto à água serão removidas para permitir a regeneração dos mangues e a criação de áreas de lazer chamadas “respiros”.

O Parque Palafitas contará com infraestrutura moderna, incluindo iluminação pública, saneamento básico, energia solar nos prédios comerciais e institucionais, além de espaços para lazer, comércio e equipamentos públicos que beneficiam a comunidade e ajudam na recuperação ambiental.