Uma operação conduzida pela Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) revelou que influenciadores digitais lucravam com a perda financeira de seus seguidores ao promoverem o chamado “Jogo do Tigrinho”, caça-níquel para celulares. De acordo com o delegado Renan Mello, parte dos investigados recebia um valor fixo por publicações, mas outros ganhavam comissões proporcionais às perdas dos usuários que se cadastravam pelas plataformas indicadas por eles — um esquema apelidado de "cláusula da desgraça alheia".
Durante a operação, 31 mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra 15 alvos, que juntos somam quase 35 milhões de seguidores nas redes sociais. Entre os nomes envolvidos estão Paola e Paulina Ataíde, que compareceram à Cidade da Polícia acompanhadas por uma advogada, mas preferiram não se pronunciar. Outras personalidades mencionadas incluem Bia Miranda, Tailane Garcia, Jenny Miranda e Maumau ZK. Na residência de Mauricio Martins Junior, o Maumau, foi apreendida uma arma de fogo, o que levou à sua prisão em flagrante.
O delegado destacou que os investigados mantinham um padrão de vida elevado, com ostentações públicas de viagens internacionais, jatos particulares, carros de luxo e mansões. Apesar da investigação, enquanto a polícia realizava buscas, alguns influenciadores continuavam promovendo o jogo em suas redes. A Justiça também determinou a quebra do sigilo fiscal de fintechs associadas ao grupo.
O Jogo do Tigrinho, também chamado de Fortune Tiger, ficou conhecido no Brasil por meio de ampla campanha publicitária com influenciadores digitais. O jogo, antes ilegal, foi legalizado com a promulgação da Lei 14.790/23, que autorizou aplicativos de apostas — embora máquinas físicas de caça-níquel ainda estejam proibidas. O modelo de funcionamento da plataforma induz ao risco elevado: apesar da promessa de lucros rápidos, muitos jogadores não conseguem retirar os valores ganhos.
A estimativa da polícia é que o negócio movimentou R$ 4,5 bilhões, sendo que apenas os influenciadores investigados movimentaram R$ 40 milhões nos últimos dois anos. As apurações foram realizadas em conjunto com o Gabinete de Recuperação de Ativos (GRA) e o Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro (Lab-LD), ambos da Polícia Civil.
Além do Fortune Tiger, outros jogos também têm gerado reclamações de prejuízos entre usuários. Entre eles estão os chamados jogos crash, como Spaceman, Aviator e JetX, em que o jogador precisa retirar o valor apostado antes do "crash", e o Mines, em que se aposta para evitar minas em um tabuleiro. A promessa de ganhos rápidos e a ausência de garantias reais de retorno são pontos comuns entre esses jogos. A TV Globo tentou contato com os influenciadores envolvidos, mas ainda não obteve retorno.