A freira brasileira Irmã Aline Ghammachi, de 34 anos, recorreu à Justiça italiana para contestar o afastamento de seu cargo como abadessa de quatro comunidades religiosas na Itália. Ela alega ter sido vítima de uma campanha difamatória iniciada por uma carta anônima enviada ao Vaticano em janeiro de 2023, que a acusava de manipulação e maus-tratos a outras religiosas.
O documento, sem assinatura nem provas anexas, levou o Vaticano a abrir investigações no mosteiro de Vittorio Veneto, onde Irmã Aline vivia em clausura com 18 monjas. Segundo a freira, a denúncia teria sido motivada por conflitos internos, especialmente com uma religiosa responsável pelas noviças, que teria agido em conluio com outras três integrantes da comunidade.
De acordo com a ex-abadessa, há registros que comprovam condutas inadequadas por parte das denunciantes. Ela afirma possuir capturas de tela e vídeos mostrando que uma das religiosas acessava sites de conteúdo pornográfico utilizando dispositivos da comunidade religiosa.
Além disso, houve apuração sobre suposto desvio de recursos por parte de Irmã Aline. No entanto, uma perícia financeira conduzida a pedido do abade geral, Mauro Giuseppe Lépori, concluiu que não houve qualquer irregularidade nas contas. “Ele deu os parabéns pela transparência das nossas contas”, afirmou a religiosa.
A polêmica se agravou com novas denúncias feitas por Irmã Aline, que acusa o próprio abade geral de assédio moral e sexual. "A gente pode dizer que sim, mas entrar nesse campo eu prefiro deixar para as autoridades", declarou, indicando que preferiu levar as acusações às instâncias competentes.
O afastamento da brasileira coincidiu com um momento crítico na estrutura da Igreja Católica, ocorrido no dia da morte do Papa Francisco, quando o Vaticano estava sob vácuo de poder. A decisão foi executada por uma madre enviada de Roma, sem direito a recurso em primeira instância, já que o dicastério responsável pelos institutos de vida consagrada estava temporariamente sem liderança.
Diante disso, Irmã Aline e outras religiosas recorreram à segunda instância da Justiça eclesiástica, buscando reverter a decisão. “Lutar pela verdade é algo cristão. Eu pretendo, sim, ir adiante até provar que essas acusações não são verdadeiras”, disse a freira em entrevista.
O caso levanta questões sobre o uso de denúncias anônimas na estrutura hierárquica da Igreja e os limites do poder disciplinar e administrativo no ambiente religioso.