O economista Paul Krugman criticou duramente a política comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em artigo publicado nesta sexta-feira (1º). Segundo ele, o governo americano tem usado tarifas como instrumento político, contrariando a legislação do país. O caso do Brasil foi apontado como o exemplo mais claro de abuso de poder por parte de Trump.
Krugman destaca que o Brasil foi alvo de tarifas de até 50%, porcentual significativamente maior que o imposto a outros parceiros comerciais. Para ele, a justificativa apresentada por Trump — punir o Brasil por processar o ex-presidente Jair Bolsonaro — revela uma tentativa escancarada de interferir nas decisões internas de outro país. “Na verdade, praticamente tudo o que Trump tem feito em matéria de comércio é ilegal, mas no caso do Brasil é escancarado”, escreveu.
O economista lembrou que as leis americanas autorizam a imposição de tarifas temporárias apenas em casos específicos: defesa de indústrias estratégicas, resposta a práticas comerciais desleais ou emergências econômicas. Nenhuma dessas condições, afirma Krugman, se aplica ao caso brasileiro. “Nem o advogado mais ardiloso conseguiria justificar tarifas com base em discordâncias sobre decisões do Judiciário de outro país”, ironizou.
Krugman também questionou a eficácia das medidas de Trump, observando que os Estados Unidos respondem por apenas 12% das exportações brasileiras. “Trump e seus assessores realmente acham que podem intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes, quando 88% das exportações do Brasil vão para outros mercados?”, provocou.
Em meio à retórica crítica, o economista ressaltou a incoerência das exceções feitas por Trump. O suco de laranja — 90% importado do Brasil — foi poupado das tarifas, enquanto o café brasileiro foi taxado. Krugman brincou com o fato, afirmando que se trata de uma “admissão implícita” de que os verdadeiros afetados pelas tarifas são os consumidores americanos, e não os exportadores estrangeiros, contrariando o discurso habitual do presidente.
O texto também compara o impacto político da estratégia tarifária nos países atingidos. No Canadá, afirma Krugman, a pressão americana teve efeito inverso e ajudou o governo liberal. No Brasil, segundo ele, a ofensiva de Trump impulsionou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Trump pode achar que pode governar o mundo, mas ele não tem o 'suco' — nem de laranja, nem de outra coisa”, concluiu, em tom de sarcasmo.
Em outra passagem do artigo, Krugman afirma que Trump não está “vencendo sua guerra comercial”. Ele pode estar impondo tarifas sem ser contido, mas não está obtendo concessões reais. Para o economista, as reações internacionais demonstram que os Estados Unidos têm menos poder de coerção econômica do que o governo americano imagina.
“O mercado dos EUA é grande, mas não grande o suficiente para obrigar outros países a reverem suas políticas internas em troca de acesso. A ideia de que se pode usar tarifas para forçar mudanças políticas é um delírio de grandeza”, avaliou o vencedor do Nobel de Economia.
O artigo ainda relembra que, no caso do Brasil, as sanções comerciais de Trump não são motivadas por práticas econômicas, como no caso da União Europeia ou do Japão, mas por um julgamento considerado ofensivo pelo atual presidente americano. “Trump vinculou explicitamente as tarifas à ousadia do Brasil em julgar Bolsonaro por tentar reverter uma eleição que perdeu”, escreveu Krugman.
A análise do economista vem acompanhada de dados comerciais e observações sobre o contexto legal das tarifas nos EUA. Ele cita que a legislação prevê mecanismos como a Seção 201, para proteger setores vulneráveis a importações, a Seção 232, para segurança nacional, e a Seção 301, voltada a práticas desleais. Em nenhuma dessas hipóteses, diz Krugman, se encaixa a sanção imposta ao Brasil.
Ao final do texto, Krugman enfatiza que as ações de Trump contra o Brasil expõem a fragilidade de sua política externa e comercial. “Ele está dando ao mundo uma lição involuntária sobre os limites do poder dos Estados Unidos”, concluiu.