A Polícia Federal desmantelou um esquema criminoso que usava farmácias de fachada para desviar recursos do programa Farmácia Popular e lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas. Estima-se que quase R$ 40 milhões tenham sido subtraídos dos cofres públicos por meio de fraudes estruturadas que envolviam uso indevido de CPFs, compras fictícias e atuação de "laranjas" em várias regiões do país.

Segundo o Ministério da Saúde, 8.138 farmácias foram descredenciadas por indícios de irregularidades. Embora nem todas estejam diretamente ligadas à facção investigada, o número reflete o esforço para requalificar a base de dados do programa. Em janeiro de 2023, o Farmácia Popular contava com 31 mil estabelecimentos cadastrados.

A investigação teve início após uma apreensão de drogas em Luziânia (GO) e se espalhou por estados como Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Um dos casos revelados envolve o dentista Gustavo, de Sumaré (SP), que descobriu o uso indevido de seu CPF para a retirada de grandes quantidades de insulina, mesmo sem ser diabético. A fraude foi registrada em nome de Francisca Ferreira de Souza, empregada doméstica que, no papel, constava como dona de cinco farmácias em estados distintos.

Francisca movimentou quase R$ 500 mil apenas com a drogaria em Campo Belo (MG) e é casada com Brazilino Inácio dos Santos, apontado como sócio de dez empresas com movimentação conjunta de R$ 2,5 milhões entre 2018 e 2019. A PF investiga a ligação do casal com Fernando Piolho, suposto líder do esquema.

Outra figura-chave na operação é Adriano Rezende Rodrigues, o “Adriano Tatu”, que adquiriu farmácias envolvidas no esquema. Uma drogaria em Cerquilho (SP), sob sua sociedade, recebeu quase R$ 1 milhão em repasses do programa federal.

A teia criminosa envolvia ao menos 160 mil CPFs e 148 farmácias — algumas reais, outras de fachada. Rafael Bruxellas Parra, diretor do Departamento Nacional de Auditoria do SUS, revelou que o sistema bloqueia cerca de 140 mil tentativas de autorização irregular por dia.

Apesar da gravidade das fraudes, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, garantiu que o Farmácia Popular será mantido: “É um programa bem-sucedido, que precisa de aprimoramentos e maior vigilância, mas que segue beneficiando milhões de brasileiros”.