Criado em 2013, o programa Mais Médicos surgiu para ampliar a presença de profissionais na rede pública, com foco especial em regiões carentes. A proposta original permitia que médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior atuassem no país sem a exigência de revalidação de diploma, desde que em postos específicos da Atenção Primária à Saúde.
A prioridade sempre foi para brasileiros, mas as vagas não preenchidas acabavam sendo ocupadas por estrangeiros. O governo federal financiava bolsas para os profissionais, que, além de atenderem pacientes, passavam por capacitação durante a atuação. De acordo com dados oficiais, a iniciativa beneficiou mais de 63 milhões de pessoas e chegou a mais de 4 mil municípios, incluindo áreas indígenas e regiões de difícil acesso. Pesquisas apontaram melhora no atendimento e vínculos mais próximos entre médicos e comunidades.
Como as chamadas públicas não conseguiam preencher todas as vagas, em agosto de 2013 o Brasil firmou acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para trazer médicos cubanos. Esses profissionais, especialistas em Medicina Geral Integral e com ampla experiência, atuaram majoritariamente em zonas de alta vulnerabilidade, como o semiárido nordestino e aldeias na Amazônia. Antes de iniciar, participavam de um módulo de três semanas sobre o SUS, protocolos de atenção básica e língua portuguesa.
Entre 2013 e 2018, cerca de 20 mil médicos cubanos passaram pelo programa, com um pico de 11,4 mil simultaneamente — mais de 60% do quadro total. Em 2016, eles representavam 48% das equipes de atenção básica em cidades com até 10 mil habitantes e garantiam 100% da cobertura em 1,1 mil municípios. No entanto, o modelo de remuneração, no qual o Brasil pagava ao governo cubano e este repassava parte do valor aos médicos, gerou críticas de entidades e setores políticos.
A chegada dos cubanos também foi marcada por episódios de hostilidade. Em Fortaleza, em 2013, manifestantes ligados ao Sindicato dos Médicos do Ceará vaiaram e insultaram médicos durante a aula inaugural, episódio que o então ministro Alexandre Padilha chamou de “truculento” e “xenófobo”.
Em 2019, durante o governo Jair Bolsonaro, o Mais Médicos foi gradualmente substituído pelo Médicos pelo Brasil. Esse novo programa exige registro no Conselho Regional de Medicina, seleção estruturada e formação obrigatória em Medicina de Família e Comunidade. Os bolsistas recebem R$ 15 mil mensais nos dois primeiros anos e, após aprovação final, são contratados pela Adaps com plano de carreira.
Desde 2023, as duas iniciativas funcionam em paralelo. O Mais Médicos, retomado no governo Lula, mantém mais de 26 mil profissionais em atividade, dos quais cerca de 2,6 mil são cubanos — pouco mais de 10% do total, longe dos índices de participação de uma década atrás. O programa aceita médicos com CRM brasileiro, diplomas revalidados ou formados no exterior, mas os sem revalidação só podem atuar em postos da rede pública previamente designados. Já o Médicos pelo Brasil projeta atuação em mais de 5 mil municípios até o fim deste ano.