A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a COP 30, marcada para Belém (PA), precisa ser lembrada pelo avanço das negociações climáticas, e não por problemas de organização. Em entrevista ao g1, ela criticou o aumento abusivo de preços na rede hoteleira local, destacando que algumas hospedagens chegaram a custar dez vezes mais do que o normal. Segundo a ministra, esse tipo de prática é “inaceitável” e foge ao padrão de outras conferências, onde a alta costuma ser de até três vezes. Como alternativa, o governo irá subsidiar seis mil vagas em navios de cruzeiro, ao custo de US$ 600 cada, totalizando R$ 30 milhões.
No campo internacional, Marina voltou a cobrar ambição nas metas climáticas e lamentou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Ela defendeu a mobilização de US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 para financiar a transição energética global, valor muito acima dos cerca de US$ 300 bilhões acordados na última conferência. Segundo a ministra, a ausência norte-americana dificulta as negociações, mas não inviabiliza os avanços. O Brasil, afirmou, já contribui com iniciativas concretas, como o Fundo de Florestas Tropicais (Tropical Forest Fund).
Marina também detalhou os vetos ao projeto de lei de licenciamento ambiental. Foram 63 cortes no texto original, resultado de uma análise conjunta com a Casa Civil e a Secretaria de Relações Institucionais. A intenção, segundo ela, foi preservar a integridade do processo, assegurar direitos de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, além de manter a segurança jurídica. “Tudo aquilo que significava retrocesso foi vetado”, afirmou. A ministra disse esperar que o Congresso compreenda que houve mediação e aprove o projeto nos moldes propostos pelo Executivo.
A titular da pasta salientou que o trabalho contou com orientação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a participação de diversos ministérios. A proposta garante consulta a comunidades tradicionais desde o momento em que um laudo técnico da Funai ou da Fundação Palmares reconhecer sua relação com o território, e não apenas após demarcação ou titulação das terras.
Sem “plano B” caso o Congresso derrube os vetos, Marina reforçou que a estratégia é apostar no texto do governo como consenso entre proteção ambiental e desenvolvimento sustentável. Ela também comentou ataques pessoais que sofreu, ressaltando que a mobilização popular em sua defesa foi mais significativa do que qualquer resposta individual. “Nós somos eleitos para representar as pessoas, não para substituí-las”, disse, lembrando de sua trajetória de vida e trabalho desde a infância.