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Monday, 06 de October de 2025 - 11:00:41
Mary Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi vencem o Nobel de Medicina 2025 por descobertas sobre o equilíbrio do sistema imunológico
TOLERÂNCIA IMUNE PERIFÉRICA

O Prêmio Nobel de Medicina de 2025 foi concedido nesta segunda-feira (6) a Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi pelas descobertas fundamentais que explicam como o sistema imunológico distingue o próprio corpo de agentes invasores. As pesquisas dos cientistas desvendaram o papel das células T reguladoras, responsáveis por manter a chamada tolerância imune periférica, mecanismo essencial para evitar doenças autoimunes.

As descobertas, que renderam aos três laureados 11 milhões de coroas suecas (equivalentes a R$ 6,2 milhões), foram anunciadas pela Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo. Segundo o comitê, os estudos abriram caminho para tratamentos inovadores contra câncer, doenças autoimunes e rejeição em transplantes.

Em 1995, o japonês Shimon Sakaguchi demonstrou que o controle imunológico não se restringe à eliminação de células perigosas no timo — processo conhecido como tolerância central. Ele identificou um novo tipo de célula imune, as T reguladoras, que atuam como “guardiãs” e impedem ataques aos tecidos saudáveis.

Anos mais tarde, em 2001, Mary Brunkow e Fred Ramsdell descobriram que mutações no gene FOXP3 provocavam uma síndrome autoimune grave, o IPEX, e mostraram que o gene é essencial para a formação das mesmas células T reguladoras descritas por Sakaguchi. Em 2003, o cientista japonês comprovou que o FOXP3 é o regulador direto dessas células, unindo as descobertas e consolidando o novo campo da tolerância imune periférica.

De acordo com especialistas, os estudos explicam por que o sistema imunológico não destrói o próprio organismo e como ele pode ser ajustado para combater doenças. Bruno Solano, pesquisador da Fiocruz, destaca que as células T reguladoras funcionam como um “freio” para evitar respostas autoimunes. “Esse entendimento abre caminho para terapias mais seguras em doenças autoimunes, câncer e transplantes”, afirma.

As implicações clínicas são amplas. Pesquisas atuais testam a estimulação das T reguladoras com interleucina-2 em pacientes com lúpus, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla, além do uso de terapia celular personalizada, em que as células são multiplicadas em laboratório e reinjetadas no paciente. Outras linhas investigam como inibir essas células em tumores, já que alguns cânceres se aproveitam delas para escapar do sistema imune.

Para Jorge Kalil, da Academia Brasileira de Ciências, o conhecimento sobre a tolerância imunológica pode transformar o sucesso de transplantes. “Se pudermos induzir tolerância com células reguladoras, será possível aceitar órgãos — até de animais — sem rejeição. Isso abre portas para novas terapias”, explica.

Os três cientistas agora se juntam a nomes históricos da medicina laureados desde 1901. Entre os 229 premiados, apenas 13 foram mulheres. Brunkow, Ramsdell e Sakaguchi entram para essa tradição como responsáveis por redefinir o entendimento moderno da imunologia — mostrando como o corpo mantém o equilíbrio entre defesa e autocontrole.

A láurea em Medicina inaugura a série de prêmios Nobel de 2025. As próximas categorias — Física, Química, Literatura, Paz e Economia — serão anunciadas ao longo da semana pelo Comitê Nobel.

Texto/Fonte: G1