Foto: Arquivo Pessoal
Friday, 01 de August de 2025 - 13:55:59
Medicina atual desafia destino do câncer e prolonga vidas
AVANÇOS MÉDICOS E ENFRENTAMENTO DO CÂNCER

O câncer está deixando de ser uma sentença de morte. Histórias como a de Izabella Barroso, que enfrentou um câncer colorretal diagnosticado precocemente e hoje está em remissão, refletem uma mudança silenciosa e significativa no cenário da oncologia. Ela passou por duas cirurgias, não precisou de quimioterapia nem radioterapia, e agora vive sob acompanhamento contínuo, mas com qualidade de vida. “Foi devastador, mas o diagnóstico precoce me salvou”, afirma.

Para especialistas, como os oncologistas Stephen Stefani e Carlos Donnarumma, a doença caminha para se tornar uma condição crônica e controlável, comparável ao HIV ou à diabetes. A cronificação do câncer, explicam, significa transformar uma enfermidade aguda e potencialmente letal em algo com que o paciente pode conviver por muitos anos, com estabilidade e dignidade.

Esse novo paradigma se sustenta em três pilares principais: diagnóstico precoce, terapias personalizadas e mudanças no estilo de vida. A detecção em estágios iniciais permite intervenções mais eficazes; tratamentos adaptados a mutações específicas reduzem efeitos colaterais; e hábitos saudáveis diminuem os riscos de reincidência.

A evolução dos tratamentos também é marcante. A medicina oncológica deixou de abordar os tumores apenas por sua localização, como pulmão ou mama, para tratá-los conforme suas características genéticas. “Hoje, olhamos para a mutação que o tumor apresenta e definimos o tratamento com base nisso”, diz Stefani.

Três medicamentos que seguem essa lógica já estão disponíveis no Brasil: o larotrectinibe, indicado para tumores com fusão NTRK; o pembrolizumabe, voltado para casos com alta carga mutacional (TMB); e o Enhertu, direcionado a tumores com expressão do HER2. Esses remédios exemplificam a nova era da oncologia, focada na precisão terapêutica.

Além da tradicional quimioterapia e radioterapia, surgem terapias inovadoras que ampliam as possibilidades de resposta. Entre elas estão a imunoterapia, as terapias-alvo, as conjugadas (anticorpos associados a quimioterapia), as teranósticas (que unem diagnóstico e tratamento com radiofármacos) e a tecnologia CAR-T cell, que manipula células do sistema imunológico do próprio paciente para combater o câncer — embora esta última ainda seja restrita a alguns tipos de tumores hematológicos.

Um campo promissor em desenvolvimento envolve o uso de doses ultrabaixas de imunoterapia. Os primeiros testes mostram que, com menor toxicidade e custo reduzido, essas abordagens podem tornar o tratamento mais acessível, especialmente em países marcados pela desigualdade, como o Brasil.

Contudo, o acesso à cronificação ainda é desigual. No Sistema Único de Saúde (SUS), muitas dessas terapias não estão disponíveis. “A maioria dos avanços está no setor privado. No SUS, falta acesso a cirurgias, exames e até à biópsia”, lamenta Donnarumma. Atualmente, o câncer é a segunda principal causa de morte no Brasil e deve liderar o ranking em breve. Apesar disso, menos de 4% do orçamento federal da saúde é destinado à oncologia.

Enquanto a medicina avança, os números crescem: segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que o país registre 40 mil novos casos de câncer de intestino em 2025. E o perfil dos pacientes também mudou: cresce rapidamente o número de diagnósticos em pessoas com menos de 50 anos. Entre as possíveis causas, estão sedentarismo, dieta rica em ultraprocessados, poluição, exposição a microplásticos e envelhecimento celular natural.

“Vivemos mais e, quanto mais tempo vivemos, mais o corpo erra na divisão celular. O câncer é, muitas vezes, uma consequência do envelhecimento, mesmo sem fatores externos”, explica o oncologista Vladmir Cordeiro de Lima, do A.C. Camargo Cancer Center.

Aos poucos, Izabella reconstrói sua vida. Após ser abandonada pela namorada durante o tratamento, reencontrou o amor, retomou o trabalho e agora planeja dividir o lar com a nova companheira. “Tem dias difíceis, mas estou aqui. A Izabella de antes não existe mais. A de agora está viva. E cheia de planos.”

Texto/Fonte: G1