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Friday, 19 de September de 2025 - 09:24:38
Metformina vira moda como emagrecedor; médicos negam efeito e pedem cautela
ALERTA MÉDICO SOBRE USO INDEVIDO

A popularização da metformina como possível solução para perda de peso vem chamando atenção nas redes sociais, mas especialistas alertam que o medicamento não deve ser usado com esse objetivo. Embora relatos de usuários indiquem redução de alguns quilos, médicos explicam que o efeito é pequeno, inconstante e restrito a pessoas com resistência insulínica.

O fármaco, descoberto nos anos 1920 e consagrado no tratamento da diabetes tipo 2, também é prescrito em casos de pré-diabetes e na síndrome dos ovários policísticos (SOP). Seu mecanismo principal é reduzir a produção de glicose pelo fígado e aumentar a sensibilidade à insulina. Por ser barato e distribuído pelo programa Farmácia Popular, tornou-se amplamente acessível no Brasil.

Estudos apontam que a metformina provoca em média perda de 2% a 3% do peso corporal, o que, em um paciente de 100 kg, significa apenas dois ou três quilos. Para a endocrinologista Lyz Helena Aires Lopes, esse resultado está longe do parâmetro mínimo de 5% exigido para que um medicamento seja considerado eficaz contra obesidade. O endocrinologista Pedro Saddi lembra que esse efeito se manifesta quase exclusivamente em pacientes com diabetes, pré-diabetes ou SOP.

Parte da confusão decorre da discreta influência da metformina na produção do hormônio GLP-1, alvo de remédios modernos como Ozempic e Mounjaro, que reduzem o apetite de forma significativa. A diferença é que, enquanto esses análogos atuam diretamente nos centros de saciedade do cérebro, a metformina exerce apenas um impacto indireto e limitado. “É um excelente remédio para tratar diabetes, mas não um tratamento para obesidade”, resume Fabio Moura, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O uso sem prescrição, além de ineficaz para emagrecer, pode gerar riscos. Entre os efeitos adversos mais comuns estão náusea, diarreia, dor abdominal e gosto metálico na boca. O uso prolongado pode provocar deficiência de vitamina B12, resultando em anemia, cansaço e problemas neurológicos. Há ainda o risco raro, porém grave, de acidose láctica em pessoas com insuficiência renal, condição em que a droga não é eliminada adequadamente.

O interesse recente no medicamento ganhou força após o sucesso de remédios modernos para obesidade, o que levou usuários a enxergarem a metformina como alternativa mais barata. Para o endocrinologista Alexandre Hohl, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), essa percepção é equivocada: “Enquanto alguns países sequer têm metformina disponível para diabéticos, aqui ela está sendo banalizada por quem não precisa. Precisamos de equidade, não desperdício”, adverte.

Pesquisas de referência, como o United Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS) nos anos 1990 e o Diabetes Prevention Program (DPP), publicado em 2002 no New England Journal of Medicine, já haviam registrado queda média de 1 a 2 quilos em usuários do medicamento. Revisões mais recentes, como a de 2019 no Diabetes, Obesity and Metabolism, consolidaram que a perda gira em torno de 2% a 3% do peso corporal. Para os especialistas, trata-se de um efeito modesto demais para justificar o uso da metformina como emagrecedor.

Texto/Fonte: G1