A megaoperação realizada nesta terça-feira (28) em comunidades da Zona Norte do Rio transformou a rotina de milhares de moradores, que enfrentaram tiroteios, medo e longos deslocamentos após retaliações criminosas. Residências atingidas por disparos, interrupções no transporte público e cenas de pânico marcaram o dia mais violento da história recente da capital fluminense.
No Complexo do Alemão, uma bala perdida atravessou o banheiro de uma casa onde estavam uma criança e o tio. “Atingiu a janela do banheiro e a geladeira”, contou a mãe, em choque. Outra moradora registrou em vídeo o muro de uma residência cravejado de tiros e lamentou a morte de um animal de estimação. “A cachorra da moradora tá morta, com um tiro”, relatou.
Quem tentou sair para trabalhar enfrentou dificuldades. “Está muito perigoso. Muito tiro desde de manhã. Estou presa dentro de casa”, disse uma moradora. Em Bonsucesso, o tiroteio intenso levou comerciantes a liberar funcionários mais cedo. “Liberaram a gente por causa do tiroteio, para a gente estar indo para casa”, afirmou Mateus Monteiro de Souza, funcionário de uma empresa de extintores.
Nos transportes, o cenário foi de caos e frustração. Com ônibus recolhidos e vias bloqueadas, muitos trabalhadores tiveram de caminhar quilômetros para chegar em casa. “Caos total. Vou andar uns 5 km para chegar em casa. Tentei pedir um carro por aplicativo, mas tá R$ 100. Vou andando, é o que me resta”, contou Antônio, um dos afetados.
Segundo o Rio Ônibus, 71 coletivos foram tomados por criminosos e usados como barricadas, impactando 204 linhas. Pela primeira vez, o sindicato recomendou o recolhimento de veículos às garagens por segurança.
O Centro de Operações da Prefeitura informou que o horário de pico do retorno para casa foi antecipado em quatro horas. A Central do Brasil e pontos de ônibus ficaram lotados, enquanto metrô, trens e barcas operavam com fluxo normal, mas sob forte demanda e longas filas. O BRT, por sua vez, apresentava intervalos irregulares.
O projeto social Arte Transformadora, que atende 250 crianças no Complexo da Penha, teve a sede danificada. “Temos uma TV destruída, uma janela quebrada, uma cortina rasgada”, relatou Albert Austin, presidente da ONG Base Transformadora.
Apesar de rumores em redes sociais, a Prefeitura negou que o Estágio Operacional 4 – o segundo mais grave – tenha sido declarado. Ainda assim, diversas vias, como Avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha, foram bloqueadas por criminosos durante a tarde, agravando o caos urbano em um dia marcado pela violência e pelo medo.