Diante dos bombardeios israelenses em Teerã, milhares de iranianos decidiram deixar suas casas e compartilhar nas redes sociais o que chamaram de “últimas fotos” de seus lares — imagens carregadas de afeto, despedidas e incertezas. A tendência ganhou força especialmente entre usuários de língua persa, em meio ao aumento dos ataques a áreas residenciais da capital.

A evacuação espontânea começou antes mesmo de o Exército de Israel emitir, nesta segunda-feira (16), uma ordem oficial para que os moradores deixassem regiões do norte de Teerã. Com receio de que suas casas fossem atingidas, muitos saíram rapidamente, enfrentando engarrafamentos quilométricos e longas filas em postos de combustível.

“Eu guardei lembranças de pessoas queridas, separei o essencial, reguei as plantas e peguei a estrada”, escreveu uma internauta. Outro usuário postou uma imagem de seu escritório em casa e comentou: “Trabalhei duro para conquistar tudo isso. Espero que ainda esteja aqui quando eu voltar.”

Para muitos, abandonar seus lares foi um gesto de dor e resignação. “Minha casa nunca pareceu tão triste”, escreveu uma mulher. Um jovem que se mudou para Teerã com sonhos de carreira declarou: “Me despedi em silêncio, torcendo para um dia voltar ao meu refúgio querido e seguro.”

Apesar da ordem de evacuação e da escalada do conflito, muitos optaram por permanecer. A BBC Persa relatou histórias de moradores que enfrentam dilemas como pais idosos, gravidez, filhos pequenos ou pura falta de recursos para sair. Uma mulher, por exemplo, relatou que teme dirigir sozinha os 800 km até Shiraz, sem combustível e com o risco de o carro quebrar. Outros relatam viagens que dobraram de duração por causa do trânsito.

“Trabalhei muito, enfrentei a Covid, inflação, tudo. Se tudo vai ser destruído, prefiro estar com meus filhos em casa do que começar do zero”, disse uma moradora de 40 anos.

Iranianos que vivem no exterior também relatam sofrimento ao tentar manter contato com seus familiares, em meio a conexões precárias. “Achávamos que a pior parte de imigrar era a saudade. Mas agora sabemos o que é a verdadeira angústia”, escreveu um deles.

A resposta de um morador de Teerã resume a complexidade da situação: “Alguns de nós não têm dinheiro. Alguns não têm pra onde ir. Não nos digam simplesmente para sair.”