A escalada dos preços da carne nos Estados Unidos está sendo impulsionada por dois fatores principais: a redução contínua do rebanho bovino americano e a ameaça sanitária representada pela mosca-da-bicheira, praga identificada em rebanhos do México e que pode chegar ao território norte-americano.
Segundo dados do governo dos EUA, o preço médio de 450 gramas de carne moída atingiu US$ 6,12 em junho — um aumento de quase 12% em relação ao mesmo período de 2024. Esse é o valor mais alto já registrado e reflete um processo de encarecimento que se arrasta há duas décadas.
Atualmente, o rebanho bovino americano é o menor em 74 anos. Em janeiro de 2025, o país contabilizava 86,7 milhões de cabeças, 8% abaixo do pico recente, registrado em 2019. Essa redução está ligada a fatores como longos períodos de seca, aumento nos custos de ração e decisões estratégicas dos pecuaristas, que vêm optando por abater fêmeas em vez de mantê-las para reprodução, visando o lucro imediato.
A ameaça sanitária mais recente é a mosca-da-bicheira, cujas larvas consomem carne viva de animais. Após registros da praga no México, os Estados Unidos suspenderam as importações de gado do país, que representava cerca de 4% do volume de carne abatida no mercado americano. Caso o parasita chegue ao Texas, os prejuízos econômicos podem ser severos, como já ocorreu antes da erradicação da praga em décadas passadas.
A situação é agravada pela sobretaxa anunciada por Donald Trump para produtos brasileiros, que pode chegar a 50% para carnes. Como parte significativa da carne importada pelos EUA é magra — utilizada na mistura com a carne mais gorda local para produzir carne moída — e vem do Brasil, a nova tarifa pode encarecer ainda mais os insumos para os frigoríficos americanos. Austrália e Nova Zelândia, que também fornecem esse tipo de corte, enfrentam tarifa de apenas 10%.
Apesar de uma recente melhora nas pastagens e da queda no preço dos grãos, analistas apontam que a recomposição dos rebanhos deve levar no mínimo dois anos. Até lá, os preços da carne devem permanecer elevados, mesmo com o fim da temporada de churrascos no outono americano, período em que historicamente há uma queda na demanda.