O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta quinta-feira (7) que não houve qualquer acordo com a oposição para que os trabalhos legislativos fossem retomados. A declaração vem após parlamentares afirmarem que ele teria se comprometido a dar andamento às pautas da oposição em troca da desocupação do plenário principal, ocupado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro desde a terça-feira.
Na noite de quarta-feira (6), o impasse foi parcialmente resolvido com a desmobilização dos manifestantes que bloqueavam o plenário. Deputados bolsonaristas protestavam contra a prisão domiciliar de Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, e também exigiam a apreciação de propostas como a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro e o fim do foro privilegiado.
Durante a ocupação, a oposição travou as atividades na Câmara e no Senado, forçando o cancelamento de sessões. Hugo Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), precisaram suspender reuniões diante da pressão exercida pelos manifestantes.
Em entrevista à imprensa nesta quinta, Motta foi enfático ao negar qualquer articulação. “A presidência da Câmara é inegociável. Quero que isso fique bem claro. As matérias que estão saindo sobre uma negociação feita por esta presidência para que os trabalhos fossem retomados não têm vínculo com nenhuma pauta. O presidente da Câmara não negocia suas prerrogativas com oposição, governo ou qualquer outro grupo”, declarou.
A tensão aumentou na noite de quarta-feira quando Motta tentou, sem sucesso inicial, ocupar a cadeira da presidência. O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) se recusou a deixar o assento. Após momentos de impasse e empurra-empurra transmitidos ao vivo, Motta conseguiu sentar-se com apoio de aliados, de onde discursou pedindo serenidade e reafirmando a defesa da institucionalidade.
“Projetos pessoais e eleitorais não podem estar à frente do que é maior que todos nós”, disse o presidente da Câmara no plenário. Mais tarde, já após o fim da ocupação, Motta classificou a solução como “menos traumática” e defendeu que o diálogo prevaleceu: “Conversamos com todas as lideranças durante o dia, deixando claro que não abriríamos mão de reabrir os trabalhos conforme o regimento e a Constituição”.
Hugo Motta também sinalizou que pode adotar medidas disciplinares contra os deputados envolvidos no bloqueio. A Secretaria-Geral da Mesa da Câmara chegou a emitir um alerta aos parlamentares e assessores, informando que ações que visem impedir ou dificultar as atividades legislativas podem resultar na suspensão imediata do mandato.
Questionado sobre a participação do ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) nas negociações, Motta reconheceu o papel do deputado e o chamou de “amigo”, acrescentando que sua atuação foi “natural”.
Ainda nesta quinta-feira, o presidente da Câmara prometeu avaliar e tomar "providências" em relação aos parlamentares que obstruíram os trabalhos da Casa nos últimos dias.