Deputados do partido de extrema direita Chega, em Portugal, divulgaram nomes de crianças em uma campanha contra a imigração. A exposição aconteceu em 3 de julho, quando a deputada Rita Matias leu os nomes em um vídeo publicado nas redes sociais, afirmando que os estudantes estariam "tomando vagas de alunos portugueses". No dia seguinte, o líder da legenda, André Ventura, repetiu os nomes durante discurso na Assembleia da República.
A ação gerou forte reação pública e é vista como reflexo da teoria conspiratória da "Grande Substituição", popular entre grupos da extrema direita europeia, que alegam existir um plano da esquerda para substituir populações brancas e cristãs por imigrantes, especialmente muçulmanos. A ideia ganhou força após a crise migratória de 2015 e é associada ao autor francês Renaud Camus.
Associações de pais repudiaram a atitude, classificando-a como irresponsável e injusta. Em carta aberta, criticaram a propagação de desinformação sobre supostos privilégios a crianças estrangeiras e ressaltaram que todas seguem os mesmos critérios legais para matrícula. O sociólogo João Carvalho, da Universidade de Lisboa, reforçou que não há favorecimento e acusou o partido de usar a escassez de recursos públicos como ferramenta para fomentar hostilidade social.
Aumento da imigração e reações políticas
Portugal viveu um aumento expressivo da população imigrante na última década: o número saltou de 397 mil em 2015 para 1,5 milhão em 2025, representando 14% da população. Os brasileiros lideram entre os estrangeiros, com 29%, seguidos por asiáticos de países como Índia, Nepal, China e Bangladesh.
A ascensão do Chega ocorre nesse contexto. Desde sua estreia legislativa em 2019, o partido saltou de uma para 60 cadeiras no Parlamento português em 2025, tornando-se a terceira maior bancada. O cientista político Antônio Costa Pinto observa que, diferente da retórica tradicional lusotropicalista, o Chega adotou um discurso explicitamente racista, voltando-se contra imigrantes asiáticos, afrodescendentes e até brasileiros.
Pressão por mudanças legais e avanço conservador
No último dia 16, o Parlamento português aprovou medidas que impactam diretamente a comunidade brasileira, como o fim da possibilidade de regularização após entrada como turista e a exigência de dois anos de residência antes de solicitar vistos para familiares.
Para analistas, a radicalização do debate migratório tem sido favorecida pela falta de ação de partidos progressistas quando estavam no poder. A deputada Isabel Mendes, do partido de esquerda Livre, alerta que a aliança do governo com o Chega para garantir maioria parlamentar pode comprometer os princípios democráticos e denuncia a exploração política da crise migratória com foco em crianças.
"Estamos a assistir à construção de uma narrativa onde a imigração é o bode expiatório de todos os problemas sociais. É preciso reagir com firmeza, unir forças democráticas e proteger a convivência plural que Portugal precisa para enfrentar o futuro", afirmou Mendes.