O Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo confirmou que duas amostras de bebidas apreendidas no estado apresentaram metanol em concentração acima do limite permitido por lei. Segundo nota divulgada nesta terça-feira (7), os laudos já foram encaminhados à Polícia Civil para auxiliar nas investigações sobre a origem e a distribuição dos produtos adulterados.

De acordo com o órgão, a substância não é resultado de destilação natural, mas foi deliberadamente adicionada. O trabalho pericial, que ocorre 24 horas por dia, inclui análises químicas e documentoscópicas de rótulos e lacres. Antes de chegar aos equipamentos de separação de componentes, as embalagens são inspecionadas para identificar possíveis sinais de reaproveitamento. Apenas o laudo final confirma a presença e a quantidade de metanol.

O instituto, contudo, não informou o número total de garrafas analisadas nem os tipos de bebidas periciadas. Também não revelou os locais onde as apreensões ocorreram.

???? O metanol é um álcool de uso industrial presente em solventes e produtos químicos. Quando ingerido, é altamente tóxico e pode causar danos graves ao fígado, ao cérebro e ao nervo óptico, além de provocar cegueira, coma e até a morte. A substância também pode levar à insuficiência renal e pulmonar.

A força-tarefa estadual, que atua desde a semana passada, apreendeu na segunda-feira (6) mais de 100 mil vasilhames vazios em um galpão clandestino na Vila Formosa, zona leste da capital. Durante as fiscalizações, 18 estabelecimentos foram vistoriados — 11 acabaram interditados por irregularidades sanitárias. Seis distribuidoras e dois bares tiveram a inscrição estadual suspensa preventivamente, entre elas a Bebilar Comercial e Distribuidora de Alimentos e Bebidas e a Brasil Excellance e Exportadora de Bebidas.

As autoridades também divulgaram o balanço de casos suspeitos no estado: 176 ocorrências foram registradas, sendo 18 confirmadas por laudo, 158 ainda sob investigação e 85 descartadas. Até o momento, há dez mortes notificadas — três confirmadas por ingestão de bebida adulterada e sete em apuração.

As investigações seguem duas linhas principais, conforme o governador Tarcísio de Freitas. A primeira aponta que o metanol pode ter sido usado na higienização de garrafas reaproveitadas; a segunda sugere que o composto teria sido empregado para aumentar o volume de bebidas falsificadas. Há também a hipótese de que o produto utilizado fosse etanol puro contaminado com metanol.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que a Polícia Federal não descarta a ligação dos casos com a megaoperação contra o crime organizado no setor de combustíveis, realizada em agosto. Segundo ele, tanques de metanol abandonados após a ação podem ter sido desviados. “Essa é uma hipótese que está sendo estudada pela Polícia Federal”, declarou o ministro ao anunciar a criação de um comitê informal para enfrentar a crise do metanol.