O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou recentemente que o uso de paracetamol durante a gravidez poderia estar associado ao desenvolvimento do transtorno do espectro autista (TEA). A declaração gerou forte reação de especialistas, que ressaltam não existir evidência científica conclusiva de relação causal entre o medicamento e o autismo.
O paracetamol, conhecido como Tylenol nos EUA, é amplamente indicado para gestantes justamente por ser considerado mais seguro do que anti-inflamatórios como o ibuprofeno. Entidades médicas, como o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia e o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, reforçam que o remédio pode ser usado durante toda a gestação, desde que sob orientação médica.
Estudos de larga escala também não corroboram a hipótese levantada por Trump. Pesquisas suecas com milhões de crianças apontaram apenas pequenas associações estatísticas, que desapareceram quando comparados irmãos de mesma mãe — indicando que fatores genéticos e condições de saúde da gestante são mais determinantes. A literatura científica estima que cerca de 85% a 90% das causas do autismo têm origem genética, com influência secundária de fatores ambientais.
Especialistas lembram ainda que associação não significa causa. Em muitos casos, o uso do paracetamol está ligado a infecções maternas, que por si só podem impactar o desenvolvimento fetal. A análise mais recente publicada na revista JAMA concluiu que não há provas de que o medicamento provoque TEA, TDAH ou deficiência intelectual.
Além de questionar o paracetamol, Trump defendeu o uso da leucovorina, uma forma de ácido fólico já usada contra alguns tipos de câncer, como possível tratamento para sintomas de autismo. Pesquisadores, no entanto, afirmam que as evidências são limitadas e insuficientes para respaldar a adoção clínica da substância.
Organizações de defesa de pessoas autistas criticaram duramente o discurso presidencial. Para Arthur Ataide Garcia, vice-presidente da Autistas Brasil, Trump e aliados utilizam o autismo como ferramenta política, reforçando estereótipos cruéis e ignorando a necessidade de políticas inclusivas. Ele lembra que, no Brasil, o país lidera a disseminação de desinformação sobre falsas causas e supostas curas para o autismo, segundo mapeamento regional.
O consenso médico atual é que o paracetamol continua sendo o analgésico mais seguro para gestantes, desde que usado na menor dose eficaz e pelo menor tempo possível, sempre com acompanhamento profissional.