Foto: Juan Silva e Dhara Pereira/ g1
Wednesday, 08 de October de 2025 - 12:47:19
PF desarticula esquema familiar que cobrava até R$ 500 mil por vaga em concurso
FRAUDE EM CONCURSOS PÚBLICOS

A Polícia Federal revelou detalhes de um esquema criminoso que vendia aprovações em concursos públicos há mais de uma década, cobrando até R$ 500 mil por vaga. O grupo, baseado em Patos (PB), usava métodos sofisticados de fraude, como pontos eletrônicos implantados cirurgicamente, comunicação em tempo real durante as provas e uso de dublês para burlar a fiscalização das bancas examinadoras.

Segundo as investigações, a quadrilha aceitava pagamentos não apenas em dinheiro, mas também em ouro, veículos e até procedimentos odontológicos. O esquema era liderado por Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021, apontado como responsável por negociar com candidatos, coordenar a logística e distribuir gabaritos.

A operação identificou que o grupo fraudou concursos da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Polícias Civil e Militar, Banco do Brasil, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e até o Concurso Nacional Unificado (CNU). A estimativa é de que o esquema tenha movimentado milhões de reais em propinas ao longo dos anos.

A PF constatou que Wanderlan chegou a se inscrever no CNU 2024 apenas para demonstrar a eficácia das fraudes aos clientes, obtendo aprovação para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com salário inicial de R$ 22,9 mil. Ele não compareceu ao curso de formação.

As investigações também apontam o envolvimento de vários familiares: os irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves, que também teria sido aprovada fraudulentamente no CNU e usada como “vitrine” para atrair novos interessados.

Outros envolvidos incluem Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, policial militar e dono de uma clínica odontológica suspeita de lavar dinheiro; Thyago José de Andrade, apontado como responsável pelos repasses financeiros; e Luiz Paulo Silva dos Santos, suspeito de participar de mais de 60 concursos fraudados.

Um dos indícios mais contundentes, segundo o laudo técnico da PF, foi a descoberta de gabaritos idênticos entre quatro candidatos, inclusive nos erros, em provas de tipos diferentes — uma coincidência considerada estatisticamente “quase impossível”, equivalente a ganhar a Mega-Sena quase 20 vezes seguidas.

As investigações também identificaram lavagem de dinheiro por meio de compra e venda simulada de imóveis, uso de “laranjas” e movimentações em espécie incompatíveis com a renda declarada. O COAF apontou, por exemplo, que Geórgia Neves depositou R$ 419 mil sem vínculo empregatício desde 1998.

Três pessoas foram presas preventivamente — duas em Recife (PE) e uma em Patos (PB). A Justiça Federal determinou bloqueio de bens e afastamento cautelar de suspeitos de posse em cargos públicos.

O Ministério da Gestão e Inovação informou que colabora com as investigações e adotará novas medidas de segurança. Entre as mudanças aplicadas ao CNU 2025, estão provas com código de barras individual, detectores de metal até nos banheiros e fiscalização reforçada com apoio da Polícia Federal, PRF e Força Nacional.

Texto/Fonte: G1