A Polícia Federal revelou novos detalhes sobre a atuação da chamada “Abin paralela”, que resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Carlos Bolsonaro, o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e mais 32 pessoas. Segundo os investigadores, o grupo montou uma estrutura clandestina dentro da Agência Brasileira de Inteligência para espionar ilegalmente autoridades e civis durante o governo Bolsonaro.
De acordo com o inquérito, servidores da Abin e policiais federais usaram a ferramenta de rastreamento FirstMile para invadir celulares e computadores de ministros do Supremo Tribunal Federal (como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli), parlamentares, jornalistas e até servidores do Ibama e da Receita Federal.
As investigações começaram em 2023 e ganharam notoriedade após a deflagração da operação Última Milha, em 2024. Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news. A PF aponta que a espionagem tinha como objetivo alimentar o “gabinete do ódio”, operado por Carlos Bolsonaro, e que Jair Bolsonaro não apenas sabia do esquema, como se beneficiava das informações obtidas.
Além da vigilância de adversários políticos, a Abin teria sido instrumentalizada para proteger a família Bolsonaro. Auditores da Receita que investigavam o senador Flávio Bolsonaro teriam sido monitorados, assim como pessoas ligadas a investigações envolvendo Jair Renan Bolsonaro, como ex-sócios e empresários.
Entre os nomes espionados, constam o ex-governador João Doria, o deputado Kim Kataguiri, os senadores Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues e Omar Aziz, e jornalistas como Mônica Bergamo e Vera Magalhães.
A PF também acusa integrantes da atual gestão da Abin de tentarem obstruir as investigações. O atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa, foi indiciado. O caso levanta questionamentos sobre a falta de controle institucional da Abin e reacende o debate sobre a necessidade de uma reforma profunda na estrutura e nas atribuições da agência. Até agora, os principais envolvidos não se manifestaram.