O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, o PIX, está sob investigação comercial do governo dos EUA desde julho de 2025, sob suspeita de práticas "desleais" que podem prejudicar empresas americanas no setor. Em contraste, o sistema indiano UPI (Unified Payments Interface) — considerado uma referência mundial — não enfrenta essa pressão americana, mesmo sendo muito maior e mais antigo. Entender o sucesso do UPI e suas diferenças com o PIX ajuda a contextualizar a ofensiva dos EUA contra o sistema brasileiro.
O que é o UPI e sua história
Lançado em 2016, o UPI foi uma iniciativa do Banco Central da Índia em parceria com entidades financeiras privadas, que buscava digitalizar amplamente o país, incluindo a desmonetização de grande parte do dinheiro físico. O sistema funciona 24 horas, é gratuito e permite transferências e pagamentos simples usando apenas um identificador, dispensando dados bancários. Hoje, cerca de 500 milhões de indianos utilizam o UPI, que responde por 83% das transações digitais locais.
Diferenças estruturais entre UPI e PIX
No Brasil, o Banco Central é tanto regulador quanto operador do PIX, exercendo controle direto sobre o sistema, com adesão obrigatória para grandes instituições financeiras.
Na Índia, o Banco Central atua principalmente como regulador, deixando o setor privado operar o UPI, com participação voluntária dos bancos.
Esse modelo indiano favorece a presença forte de grandes empresas americanas como Google e Walmart, que dominam as carteiras digitais utilizadas para acessar o UPI, ao contrário do Brasil, onde as fintechs e bancos digitais nacionais são mais protagonistas.
Inovações e internacionalização
O UPI lançou recursos antes do PIX, como pagamentos automáticos recorrentes, offline e por comando de voz. Internacionalmente, o UPI já está presente em vários países e negocia expansão nos países do BRICS. Já o PIX tem expansão internacional limitada e ainda é usado fora do Brasil principalmente por iniciativas privadas, não oficiais.
Big Techs: ganhadoras na Índia e perdedoras no Brasil
As grandes empresas americanas se beneficiam do modelo indiano, controlando a interface com o consumidor final e dominando o mercado. No Brasil, o PIX foi estruturado para fortalecer o ecossistema financeiro doméstico, limitando a entrada das big techs, que enfrentam barreiras regulatórias — como o bloqueio do pagamento pelo WhatsApp, que não conseguiu crescer no segmento de pagamentos brasileiros.
O que explica a investigação americana contra o PIX?
A análise dos EUA, via Escritório do Representante Comercial (USTR), aponta o PIX como sistema "desenvolvido pelo governo" que pode estar prejudicando empresas americanas no mercado de pagamentos. Especialistas veem que o interesse das grandes corporações americanas na investigação está ligado à tentativa de reduzir a competitividade do PIX frente aos sistemas americanos e a empresas como Visa, Mastercard e o próprio WhatsApp.
Conclusão
O caso mostra como a estruturação do sistema de pagamentos instantâneos e seu modelo de governança impactam as relações comerciais e políticas internacionais. Enquanto o UPI favorece multinacionais americanas e mantém maior participação do setor privado, o PIX fortalece o ecossistema nacional e restringe a atuação das big techs, gerando atritos com o governo Trump, que busca proteger interesses americanos.