Uma briga de trânsito na Avenida Barão de Mauá, em Mauá, na Grande São Paulo, terminou em tragédia na última semana. O mecânico Clayton Juliano da Silva, de 38 anos, foi morto com um tiro na nuca disparado por um policial militar que estava em uma moto. Além disso, uma criança de nove anos, que estava no banco traseiro do carro, também foi atingida por um disparo e permanece internada em estado estável. O policial militar, Kaio Lopes Raimundo, de 32 anos, foi preso em flagrante e responde por homicídio e tentativa de homicídio.

Segundo relatos da esposa de Clayton, Cristiane Maria da Silva, o desentendimento começou quando o policial, que não estava fardado, pilotava sua moto e tentou ultrapassar de forma agressiva o carro da família. Após uma buzina para que eles desobstruíssem a via, o PM teria jogado spray de pimenta dentro do veículo, segundo a mulher, o que desencadeou a troca de agressões. Em seguida, o policial disparou quatro tiros contra o carro ainda em movimento, atingindo o motorista na nuca. O carro seguiu na contramão até colidir contra um muro.

Na versão apresentada pelo policial ao delegado, Kaio afirmou que se sentiu ameaçado durante a confusão e agiu em legítima defesa. Ele contou que a moto foi atingida pelo carro e que, ao cair, ficou com a perna machucada e a moto presa sob o veículo. Segundo ele, o motorista fez um gesto com a mão que lhe deu a impressão de que sacaria uma arma, o que o levou a disparar três vezes para se defender. O policial negou ter usado spray de pimenta, afirmando que não carrega esse equipamento.

Não foi encontrada nenhuma arma com o mecânico no local do incidente. A Corregedoria da Polícia Militar foi acionada e o PM está detido no presídio Romão Gomes, à disposição da Justiça.

Este caso ocorre em meio a um aumento preocupante na letalidade policial em São Paulo. Dados indicam que, entre 2023 e 2024, o número de pessoas mortas por policiais militares e civis cresceu significativamente no estado, chegando a 813 vítimas no último ano, contra 504 no anterior. A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, relaciona esse crescimento ao aumento das mortes violentas intencionais em São Paulo, que vão na contramão da redução observada em outras unidades federativas do país.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em nota, afirmou que os casos de Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) estão em queda, com uma redução de 3,86% nos primeiros cinco meses deste ano em comparação ao mesmo período de 2024. A pasta destacou que todas as ocorrências são investigadas pelas corregedorias da Polícia Civil e Militar, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.

O episódio provocou protestos contra a violência policial em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, reforçando o debate sobre o uso da força pelas forças de segurança pública no estado.