O impacto do metanol no organismo não é igual para todos. Isso acontece porque, ao ser ingerido, ele passa pelo fígado e é transformado pelas enzimas álcool desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase (ALDH) em formaldeído e, depois, em ácido fórmico, que são os verdadeiros responsáveis pelos efeitos tóxicos.
Segundo o geneticista Ciro Martinhago, nem todo organismo processa o metanol da mesma forma. Indivíduos que metabolizam a substância mais lentamente acumulam maiores quantidades de ácido fórmico e apresentam sintomas mais graves, enquanto quem metaboliza mais rápido consegue eliminar parte da substância, sofrendo menos.
Algumas variações genéticas, mais comuns em determinados grupos populacionais, podem aumentar o risco. Por exemplo, a deficiência da enzima ALDH2, frequente em pessoas de origem japonesa, chinesa e coreana, dificulta a metabolização do etanol e serve como indicativo de maior vulnerabilidade ao metanol.
Mesmo fora de grupos específicos, diferenças genéticas influenciam a velocidade de metabolização e a gravidade do quadro. Históricos familiares de reações fortes ao álcool comum — como rubor facial ou palpitações — podem sinalizar maior risco frente ao metanol.
Idade, doenças pré-existentes e consumo simultâneo de etanol também influenciam. Curiosamente, o etanol compete com o metanol pelas mesmas enzimas e, em ambiente médico controlado, pode ser usado como antídoto para retardar a formação do ácido fórmico.
O ácido fórmico circula pelo corpo, mas sua ação varia:
Nervo óptico e retina: maior risco de cegueira precoce.
Fígado e rins: podem sofrer falência dependendo da sensibilidade individual.
Coração e pulmões: afetados pela acidose metabólica causada pelo ácido fórmico.
Diferenças na resposta inflamatória do organismo também contribuem: quem apresenta reação inflamatória intensa tende a sofrer danos maiores nos tecidos.
Os efeitos mais graves surgem entre 12 e 48 horas após a ingestão: visão borrada, fotofobia e respiração acelerada podem evoluir para convulsões, coma e falência múltipla de órgãos. Quanto mais cedo o paciente recebe antídotos e hemodiálise, maiores as chances de evitar sequelas graves.
Em resumo, a gravidade da intoxicação por metanol depende de genética, metabolismo individual, órgãos mais vulneráveis e rapidez no tratamento.