A concessão do Prêmio Nobel da Paz de 2025 à opositora María Corina Machado recoloca a crise política da Venezuela no centro da atenção global e representa um duro golpe para o regime de Nicolás Maduro. A decisão do Comitê Norueguês do Nobel foi interpretada como uma censura simbólica ao governo venezuelano, que completa 12 anos sob o comando do mesmo líder e atravessa seu terceiro mandato consecutivo.
O comitê justificou a escolha afirmando que premiava “uma mulher que mantém a chama da democracia viva em meio à crescente escuridão”. O presidente da entidade, Jorgen Watne Frydnes, destacou que “Machado sempre falou pelos direitos humanos e pelo povo venezuelano. Ela é o equilíbrio contra os tiros do regime Maduro”.
Escolhida nas primárias com 90% dos votos, María Corina conseguiu reunir a fragmentada oposição venezuelana e mobilizar multidões em um país onde as instituições estão dominadas pelo governo. A oposição reivindicou vitória nas eleições de 2024, alegando ter obtido 70% dos votos — resultado que o regime não reconheceu, mantendo o poder e intensificando a repressão.
Desde então, o candidato opositor Edmundo González vive exilado na Espanha, enquanto María Corina permanece escondida, acusada pela Procuradoria-Geral de apoiar as sanções impostas pelos Estados Unidos à Venezuela. Em 2024, ela já havia sido premiada com duas importantes distinções internacionais de direitos humanos — o Prêmio Sakharov, da União Europeia, e o Václav Havel, do Conselho da Europa.
O Nobel, no entanto, amplia exponencialmente sua visibilidade e reforça sua legitimidade política, sobretudo em um momento de tensão crescente entre Caracas e Washington. O governo de Donald Trump, que classifica o regime de Maduro como um “Estado narcotraficante”, mantém navios de guerra posicionados no Mar do Caribe, perto do litoral venezuelano.
Analistas apontam que o reconhecimento internacional à principal opositora deve enfraquecer os esforços de Maduro para recuperar popularidade interna em meio à pressão externa. A premiação ocorre no mesmo ano em que Trump fez campanha para conquistar o próprio Nobel da Paz — e acabou derrotado.
A honraria concedida a Machado, acompanhada de um prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões), reafirma o apoio internacional à luta pacífica pela restauração da democracia e dos direitos humanos na Venezuela. O gesto do comitê, ao exaltar a resistência da líder opositora, deslegitima o regime chavista e sinaliza o reconhecimento global de que a crise no país ultrapassa fronteiras políticas e humanitárias.