Um dia depois das manifestações em várias cidades contra a anistia, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que chegou a hora de “tirar da frente as pautas tóxicas”. Segundo ele, o Parlamento deve priorizar temas como a reforma administrativa, a revisão do imposto de renda e a segurança pública.
As declarações foram dadas em um evento voltado ao mercado financeiro em São Paulo. Questionado sobre os protestos de domingo, Motta afirmou que tanto os atos contrários quanto os que haviam defendido a anistia semanas antes demonstram que “a democracia segue mais viva do que nunca”. Ele disse respeitar as manifestações populares e destacou a importância do debate público.
Apesar da repercussão negativa da aprovação da urgência da proposta de anistia, o deputado defendeu que o projeto pode ser uma saída política. Segundo ele, a ideia é formular um texto “dentro das regras legais”, que reconheça o papel do Judiciário e do Executivo, mas sem deixar de punir os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. “É inadmissível que isso volte a acontecer”, frisou.
Motta ponderou que o embate eleitoral deve ficar em outro campo, e não ser tratado como questão penal que traga instabilidade institucional. Para ele, o Parlamento deve buscar um processo de pacificação, ainda que desagrade simultaneamente os dois polos políticos. “Se estão os dois lados insatisfeitos, é porque estamos no caminho certo”, avaliou.
O presidente da Câmara também criticou a imprensa, acusando-a de priorizar a “pauta do conflito” e de ofuscar votações relevantes. Ele afirmou que o Legislativo tem conseguido aprovar matérias importantes, mas que esses temas acabam em segundo plano diante das disputas mais polarizadas que dominam o noticiário.
O contexto das votações recentes foi marcado por pressão política. A PEC da Blindagem e a urgência da anistia foram colocadas em pauta após acordo de Motta com o Centrão e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O acerto ocorreu em agosto, depois que parlamentares bolsonaristas tomaram as mesas diretoras da Câmara e do Senado em protesto contra a prisão domiciliar de Bolsonaro.
Na ocasião, Motta precisou do apoio do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), liderança do Centrão e um de seus principais fiadores políticos, para recompor a governabilidade.