Nos Estados Unidos, milhões de famílias que dependem do Programa Suplementar de Assistência à Nutrição (SNAP) se preparam para enfrentar cortes severos nos benefícios, caso o pacote de reforma fiscal defendido pelo presidente Donald Trump seja aprovado pelo Congresso. O programa, semelhante ao Bolsa Família brasileiro, oferece subsídios para compra de alimentos a pessoas de baixa renda, incluindo idosos, famílias com crianças e pessoas com deficiência.
O texto, apelidado de "big, beautiful bill" (grande e belo projeto de lei), já passou pelo Senado e voltou para análise da Câmara dos Deputados. Se aprovado, ele deve ser sancionado por Trump, que pressiona o Legislativo para concluir a votação até o feriado de 4 de julho, Dia da Independência americana.
O projeto endurece os critérios de acesso ao SNAP, o que poderá excluir cerca de 3 milhões de beneficiários, segundo estimativas do Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA. O corte faz parte de um pacote maior que prevê uma redução de US$ 211 bilhões nos gastos federais com programas sociais, impactando Estados com alta dependência do SNAP, como a Virgínia Ocidental — um dos redutos republicanos que mais dependem do programa.
Apesar das promessas de Trump de baixar os preços dos alimentos, os custos de produtos básicos como ovos, bacon e suco de laranja subiram nos últimos meses. O presidente defende que os cortes farão com que os preços despencem, mas não explicou claramente como isso ocorreria.
Internamente, o Partido Republicano está dividido sobre os cortes. Enquanto parte da bancada defende o equilíbrio fiscal, outros, especialmente de regiões mais pobres, alertam para os impactos eleitorais negativos. O senador Jim Justice (Virgínia Ocidental) avisou que o endurecimento dos critérios do SNAP pode custar a maioria republicana no Congresso nas eleições de 2026, pois a medida pode prejudicar e irritar eleitores dependentes do programa.
Pesquisas mostram que a maioria dos americanos considera o financiamento dos programas sociais insuficiente ou adequado, com uma minoria defendendo cortes.
Beneficiários como Elizabeth Butler e Jordan, que vivem na Virgínia Ocidental, relatam que o programa é essencial para manter suas famílias alimentadas, apesar dos valores não serem suficientes para o mês inteiro. Outro beneficiário, Cameron Whetzel, enfrenta dificuldades para se enquadrar nos critérios e sustenta que os cortes serão desastrosos para pessoas que já enfrentam dificuldades financeiras.
O debate reflete um momento delicado na política americana, com tensões internas no partido que controla o Congresso e a Casa Branca. O futuro do SNAP e de outros programas como o Medicaid está sendo negociado em meio a pressões para equilibrar o orçamento federal, ao mesmo tempo em que cresce a preocupação com as consequências sociais dessas medidas.