A França planeja inaugurar em 2028 uma prisão de segurança máxima no município de Saint-Laurent-du-Maroni, na Guiana Francesa, com 500 vagas para reduzir a superlotação local. Entre elas, 60 vagas serão reservadas para presos de alta periculosidade, incluindo 15 para condenados por radicalismo islâmico. O projeto, anunciado sem consulta às autoridades locais, tem gerado forte rejeição.
O ministro francês da Justiça informou que a unidade terá rígido regime inspirado nas leis antimáfia italianas, com isolamento severo, visitas limitadas, buscas constantes, vigilância eletrônica 24 horas, bloqueadores de celulares e drones para monitoramento. A localização isolada na floresta amazônica visa separar permanentemente chefes de redes de tráfico de drogas de suas organizações criminosas.
A Guiana Francesa registra o maior índice proporcional de criminalidade da França, com 20,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2023 — quase 14 vezes acima da média nacional. Saint-Laurent-du-Maroni é ponto estratégico para o tráfico, dado seu acesso a Suriname e Brasil e a rota aérea para Paris, utilizada para transporte de cocaína.
O local também abriga memória histórica como antigo campo penal do século 19, conhecido por abrigar presos políticos e retratado no livro e filmes “Papillon”.
Autoridades locais reagiram com indignação. Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, afirmou que o plano foi uma surpresa e destacou que a construção deveria apenas resolver a superlotação carcerária, não abrigar radicais da França continental.
“A Guiana não pode se tornar um depósito de criminosos e pessoas radicalizadas vindas da França continental”, declarou Fereira.
O deputado franco-guianense Jean-Victor Castor classificou o projeto como um “insulto à história local”, “provocação política” e “retrocesso colonial”, pedindo a revogação da iniciativa.
O anúncio, divulgado pelo Ministério da Justiça francês, intensifica tensões políticas entre a Guiana Francesa e o governo central em Paris.