As ruas de Lima e outras cidades do Peru foram tomadas por protestos iniciados em 20 de setembro contra uma reforma no sistema de aposentadoria que obriga todos os maiores de 18 anos a aderirem a um provedor de pensão. A medida, impulsionada pelo governo de Dina Boluarte, catalisou uma insatisfação acumulada da população, alimentada por denúncias de corrupção, insegurança econômica e o aumento da criminalidade.

No último sábado (27), confrontos entre manifestantes e tropas de choque deixaram ao menos 18 feridos, segundo a Coordenação Nacional de Direitos Humanos. Jovens da chamada Geração Z estão na linha de frente dos protestos, usando como símbolo uma caveira com chapéu de palha inspirada no mangá One Piece. “Minha geração está indo às ruas agora porque estamos cansados de ser silenciados, de viver com medo”, afirmou o estudante Santiago Zapata.

A crise de legitimidade do governo aparece refletida nos índices de aprovação: apenas 2,5% para Boluarte e 3% para o Congresso, segundo o Instituto de Estudos Peruanos. Para a professora Jo-Marie Burt, pesquisadora da Universidade de Princeton, o movimento expressa um descontentamento profundo e contínuo, comparável ao período autoritário de Alberto Fujimori nos anos 1990.

O impacto econômico já é perceptível: a Hudbay Minerals suspendeu temporariamente a operação de uma de suas usinas, em meio ao risco para a indústria de mineração, setor crucial para o país, terceiro maior produtor mundial de cobre.

Os protestos peruanos se conectam a uma onda global de mobilização juvenil, como visto na Indonésia e no Nepal. Analistas apontam que, apesar do enfraquecimento do apoio internacional à democracia, especialmente dos Estados Unidos, movimentos como esse podem frear tendências autoritárias e até derrubar governos. O desafio, segundo especialistas, será a capacidade de manter a pressão ao longo do tempo.