O chamado efeito sanfona — o ciclo de engordar, emagrecer e engordar novamente — tem causas mais profundas do que se imagina, indo além da disciplina alimentar. Segundo o endocrinologista Bruno Halpern, da Unicamp, fatores hormonais e neurológicos dificultam a manutenção do emagrecimento, pois o corpo tende a reagir à perda de peso com aumento da fome e queda na saciedade.
Após o emagrecimento, o corpo produz menos leptina, hormônio ligado à sensação de saciedade, o que estimula o apetite. Além disso, o tecido adiposo guarda uma espécie de "memória da obesidade", como revelou um estudo suíço, mantendo a predisposição para recuperar o peso perdido.
A reportagem do Fantástico acompanhou a cabeleireira Tatiana Santos, que vive o efeito sanfona desde a infância. Com um IMC acima de 30 e histórico de princípio de infarto, ela iniciou um novo tratamento com suporte médico, reorganização alimentar e uso de medicamentos como as “canetinhas” para emagrecimento. Em dois meses, perdeu quase 6 quilos e reduziu medidas importantes, especialmente na região abdominal, considerada de alto risco cardiovascular.
Especialistas destacam que a obesidade é determinada por três pilares: genética, comportamento e ambiente. Mudanças no entorno e na rotina são fundamentais para enfrentar a condição. "Se você deixa para decidir o que comer no meio do dia, vai acabar escolhendo o que ativa o sistema de recompensa do cérebro: alimentos ricos em gordura, açúcar e sal", alerta o nutrólogo Athos, que também já enfrentou a obesidade.
O caso de Tatiana ilustra que, com tratamento individualizado e compreensão dos mecanismos biológicos, é possível sair do ciclo do efeito sanfona — ainda que o caminho demande mais do que força de vontade.