Segundo uma reportagem do jornal The New York Times publicada nesta quarta-feira (21), o governo da Rússia tem utilizado o Brasil como uma espécie de "linha de montagem" de espiões. A investigação revelou que o Kremlin envia cidadãos russos ao território brasileiro para que forjem identidades falsas, adquiram documentos locais e passem por um processo de infiltração e adaptação social antes de serem despachados para missões de espionagem no exterior.
De acordo com o jornal, esses agentes secretos vivem como brasileiros, constroem reputações e históricos de vida plausíveis, e então viajam para países como Estados Unidos, membros da União Europeia ou do Oriente Médio sem levantar suspeitas.
Um dos casos mais notórios citados pela reportagem é o de Sergey Vladimirovich Cherkasov, que assumiu a identidade brasileira de Victor Muller Ferreira. Ele chegou a se candidatar a uma vaga de estágio no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, e foi preso no Brasil sob a acusação de uso de documentos falsos. Investigações da Polícia Federal indicaram que Cherkasov recebia apoio direto de um diplomata russo em Brasília.
As autoridades brasileiras confirmaram que, na época da prisão de Cherkasov, ele já era considerado suspeito de espionagem e mantinha vínculos com estruturas da inteligência militar russa. O caso gerou alertas de segurança e constrangimento diplomático, tendo sido reportado também por veículos nacionais como o Fantástico, da TV Globo.
A denúncia do NYT amplia o escopo das suspeitas, sugerindo que o episódio de Cherkasov não seria isolado, mas parte de uma estratégia sistemática da Rússia. A reportagem traz ainda imagens e documentos que reforçam a tese de que o país sul-americano vem sendo explorado como um local seguro e acessível para a formação de agentes secretos, aproveitando-se das brechas nos controles migratórios e na fiscalização documental.
Até o momento, o governo brasileiro não comentou oficialmente as novas alegações.