Foto: Fábio Tito/g1
Thursday, 15 de May de 2025 - 17:25:49
Sequenciamento do DNA brasileiro revela ancestralidades, variações genéticas inéditas e impacto na saúde pública
BRASIL É PAÍS MAIS GENETICAMENTE DIVERSO DO MUNDO, REVELA ESTUDO

Uma pesquisa inédita sequenciou o genoma completo de 2,7 mil brasileiros de todas as regiões e revelou que o Brasil é a população mais diversa geneticamente do mundo. O estudo, publicado na revista Science, analisou bilhões de bases do DNA de pessoas urbanas, rurais, ribeirinhas e indígenas, mostrando que o DNA brasileiro é um verdadeiro mosaico, resultado da mistura complexa entre ancestrais indígenas, africanos e europeus.

Apesar de o DNA humano ser 99,9% igual entre as pessoas, o 0,1% restante carrega as variações que tornam cada indivíduo único. No Brasil, essas variações refletem a história do país, marcada por encontros forçados, violência e miscigenação. A pesquisa identificou que muitos povos indígenas exterminados na colonização ainda estão presentes no DNA dos brasileiros atuais. Além disso, foram encontradas combinações genéticas africanas que só surgiram no Brasil, fruto da mistura de populações trazidas como escravas.

Outro achado importante é o impacto da colonização no cromossomo Y — herdado dos homens — que tem 71% de origem europeia, enquanto as linhagens maternas são majoritariamente africanas (42%) ou indígenas (35%). Essa diferença revela a violência sexual sofrida por indígenas e mulheres escravizadas, marcada no próprio DNA.

A distribuição regional das ancestralidades varia: o Norte apresenta maior ancestralidade indígena; o Nordeste tem predominância africana; o Sul é mais europeu; e o Centro-Oeste e Sudeste são mais mistos. A miscigenação intensificou-se entre os séculos XVIII e XIX, com a corrida do ouro e expansão territorial.

No total, os pesquisadores catalogaram 8,7 milhões de variações genéticas inéditas, algumas associadas a doenças comuns no Brasil, como pressão alta, colesterol alto, obesidade, tuberculose, malária e hepatite. Esses dados poderão melhorar o diagnóstico e o tratamento personalizado, por meio da medicina de precisão, especialmente porque a referência genética mundial até hoje era majoritariamente europeia, pouco representativa da diversidade brasileira.

Além disso, o estudo aponta para a possibilidade de “seleção natural” de genes ligados à fertilidade, metabolismo e imunidade, que podem ter favorecido a sobrevivência e reprodução de certos grupos. A descoberta abre caminhos para pesquisas futuras sobre como essa diversidade genética pode ajudar a entender melhor doenças e desenvolver tratamentos adequados para a população brasileira.

Como afirmam os pesquisadores, conhecer a genética do brasileiro é essencial para melhorar políticas de saúde pública e trazer avanços na medicina personalizada.

Texto/Fonte: G1