Foto: Richard Brooks/AFP
Wednesday, 06 de August de 2025 - 08:46:31
Sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki sofrem estigma e lutam por reconhecimento após 80 anos
80 ANOS DO BOMBARDEIO ATÔMICO DE HIROSHIMA: VÍTIMAS ENFRENTAM DISCRIMINAÇÃO E LEMBRANÇAS DO HORROR

No dia 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram a primeira bomba atômica sobre Hiroshima, causando a morte de cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, uma segunda bomba foi detonada em Nagasaki, matando aproximadamente 74 mil pessoas. Esses ataques são os únicos registros do uso de armas nucleares em guerra e precipitaram o fim da Segunda Guerra Mundial.

Apesar do impacto histórico, os sobreviventes dessas tragédias enfrentaram discriminação social e econômica severa. Muitos, como explica Matsuyoshi Ikeda, que tinha apenas 7 anos na época, encontraram enormes dificuldades para conseguir emprego. Empresas desconfiavam que esses trabalhadores poderiam desenvolver doenças graves, como câncer ou leucemia, devido à exposição à radiação, e temiam faltas frequentes.

As mulheres sobreviventes sofreram ainda mais com o preconceito, conforme relata Tomoko Matsuo, de 92 anos. Muitas nunca conseguiram se casar, pois havia a crença de que a radiação causaria infertilidade ou que seus filhos nasceriam com problemas de saúde, como malformações.

Além disso, milhares de pessoas que viviam nas cidades durante os ataques não são oficialmente reconhecidas como vítimas. Para o governo japonês, apenas aqueles dentro de um perímetro restrito, onde a radiação foi mais intensa, têm direito a atendimento médico gratuito. Essa “discriminação de Estado” é contestada pelo prefeito de Nagasaki, Shiro Suzuki, que lembra que pessoas até dois quilômetros do ponto de impacto também sofreram efeitos da radiação.

Durante as cerimônias que marcaram os 80 anos do bombardeio, representantes de 120 países, além da União Europeia, confirmaram presença em Hiroshima. No entanto, potências nucleares como Rússia, China e Paquistão não enviaram delegações. O Japão não selecionou os convidados, apenas notificou os países, o que permitiu a participação de Palestina e Taiwan, territórios não reconhecidos oficialmente pelo país.

Hoje, Hiroshima é uma metrópole com 1,2 milhão de habitantes, mas o Domo da Bomba Atômica permanece como um símbolo do sofrimento causado pela explosão. Toshiyuki Mimaki, copresidente da Nihon Hidankyo — organização de sobreviventes vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2024 —, reforça a importância de preservar a memória para que o mundo não repita esses horrores.

A Nihon Hidankyo apela pela eliminação das armas nucleares, utilizando os testemunhos dos hibakusha, nome dado aos sobreviventes. Mimaki também espera que os visitantes estrangeiros conheçam o Museu Memorial da Paz para entenderem a tragédia sob a nuvem em forma de cogumelo.

As comemorações de Nagasaki, que acontecerão no sábado, devem receber um número recorde de países, incluindo a Rússia, que retorna após a invasão da Ucrânia. No ano passado, a exclusão do embaixador de Israel gerou o boicote do representante dos Estados Unidos, mas a cidade ressaltou que a decisão visava evitar distúrbios relacionados ao conflito no Oriente Médio.

“Queremos que os participantes vejam de perto a realidade da catástrofe causada por uma arma nuclear”, declarou um representante de Nagasaki à AFP, reafirmando o apelo por paz e desarmamento.

Texto/Fonte: G1